Chego agora a um tema que considero fundamental, e acreditem ou não, foi uma das razões porque criei este blog. Para ter oportunidade de vos dizer isto.
Mulher,
tu és a deusa! E não consigo bem compreender porque te deixaste dominar estes anos todos, e hoje ainda não te livraste totalmente da bagagem cultural limitativa com que os homens te tentaram negar a consciência do teu poder intrínseco. Porque é que sendo tu tanto, continuas a achar-te sempre menos? Porque pareces esperar um reconhecimento que deverias até recusar por dele não precisares?
Não vou fingir que sei o que vos vai na cabeça. Sinto-me atraído pelos grandes mistérios da criação (e que maior mistério haverá?), mas embora sendo homem (e heterossexual, não que isso importe), penso que consigo desligar-me de condicionalismos machistas o suficiente (não totalmente, que a minha anatomia não permite) para poder opinar de forma justa para ambos os lados. Ou a ser injusta que seja para com os homens, que afinal têm tido uma vidinha regalada estes séculos todos. Mas aviso já que nalguns momentos terei que usar uma abordagem nua e crua que poderá chocar um pouco.
Também tenho que esclarecer que não vejo as mulheres como submissas, embora haja normalmente um maior ou menor grau de submissão inerente à condição feminina (esta submissão, no sentido de receptividade, não tem que ser uma coisa má - é só uma outra maneira de alcançar os mesmos resultados). Mas estas palavras não se destinam tanto às mulheres independentes, livres e esclarecidas, que conquistaram há muito o seu lugar de iguais, que é o pretendido. Simplesmente, nada me revolta mais do que as injustiças, as tentativas de aprisionamento e submissão, que alguns prepotentes têm cometido (e as crianças e as mulheres têm sido das mais sacrificadas), e nesse sentido espero que estas palavras possam inspirar alguém, ao confronta-las com o essencial da sua condição: que está nas suas mão mudar! E sem um bom safanão, não vos vejo a mudar radicalmente de volta ao que já são, como a situação exige.
Há logo à partida uma situação paradoxal, naquele que é o jogo dos sexos. O sexo "fraco" (o sexo não deve ser fraco, se é fraco é porque estão a fazer alguma coisa errada, devia ser até bastante bom, mas já lá vamos) supostamente é o sexo que é conquistado, que se deixa conquistar. Mas parece-me que as mulheres investem imensamente mais em ser conquistadas, do que os machos em conquistar.
No restante da criação, são os machos que se "produzem" e procuram conquistar a atenção das fêmeas. O impulso de procriar é a lei, mas as possibilidades de o concretizar são escassas e a competição é muita. Com o reino humano as coisas seriam iguais, não fosse uma pequena assimetria na compleição física.
No entanto o domínio dos homens sobre as mulheres não teria ido avante com base na superioridade física apenas (as mulheres teriam desenvolvido músculos brutais, e passado uns anos dominavam elas os homens). A gente teve que vos enganar de alguma forma, ou não teria sido possível manter-vos aprisionadas este tempo todo.
Em tempos que já lá vão (um bocadinho depois dos dinossauros) as mulheres governavam o mundo. Foram as mulheres as tradicionais detentoras do saber, as regentes dos templos antigos (os reservatórios de saber da época), que constituiam a elite do poder. As sacerdotisas eram as guardiãs do saber, longe da imagem, generalizada como hoje está, do sacerdote mediador com deus. Literalmente, as mulheres é que sabiam (agora os homens ainda sabem que elas sabem, mas elas deixaram-se fingir que não sabem).
Nesses tempos idos, os homens serviam para caçar e defender o território, ponto final. Ah, e para aquela outra função, mas somente
quando as mulheres assim o desejavam (ainda agora devíamos demonstrar-lhes esse mesmo respeito, mas desenvolvemos técnicas sofisticadas de chantagem emocional para levar a nossa melhor).
As mulheres é que eram as detentoras do conhecimento religioso, e serviam de intermediárias para com a deusa mãe, que nesses tempos ainda governava o universo.
Mas o conhecimento, como a igreja bem cedo descobriu, é poder. E tanto poder nas mãos das mulheres começou a fazer confusão a um conjunto crescente de homens inseguros (que outra razão poderia haver para se sentirem ameaçados?) .
A primeira medida para roubar esse poder às mulheres foi criarem um deus homem. Também nunca ninguém lhes tinha passado pela cabeça que deus fosse outro que não uma grande mãe, afinal não eram as mulheres a dar à luz? Quem melhor para dar à luz o universo que uma deusa cósmica?
Este deus homem viria a ser o responsável pela desentronização da deusa mãe (à bruta, devo acrescentar) do seu lugar natural e por direito. (uma outra forma eficaz de sonegarem o poder feminino, que mantêm até hoje, foi negarem o sacerdócio às mulheres; nunca te perguntaste porque não pode haver padres mulheres? é simples:
menina não entra!).
As tradições pagãs milenares, em contrapartida, sempre viram a mulher em toda a riqueza dos seus múltiplos arquétipos: virgem, mãe, amante, guerreira, sacerdotisa, deusa... Os arquétipos masculinos são mais limitados: o guerreiro e o sábio ermita, basicamente. Se atentarmos à astrologia, temos os aspectos duais femininos da mãe, por um lado, e da amante/guerreira por outro, retratados na Lua e em Vénus respectivamente. Na contrapartida masculina basta um único planeta, Marte, todos os outros sendo em minha opinião, igualmente masculinos e femininos (não me parece correcto considerar Mercúrio, Júpiter ou Saturno como exclusividade masculina, embora a imageria clássica assim sugira; os aspectos que representam - em termos simplificados: a imaginação, a expansão e a contracção - são características universais).
Se rumarmos a oriente, então, a posição não hierárquica, mas complementar, dos sexos está ainda mais refinada. Na concepção taoista, por exemplo, homem e mulher, masculino (yang) e feminino (yin), são parte de um mesmo todo em constante mutação. Nenhum pretende ter uma supremacia sobre o outro, porque em última análise se necessitam mutuamente, e são apenas cada um, em relação ao outro, não se podendo dizer que na ausência do complemento, qualquer um por si, exista de verdade. É o mais perto que podemos chegar da relação harmoniosa entre os sexos: iguais (na sua diferença) e complementares.
Com a igreja institucionalizada, no entanto, as coisas modificam-se. A mulher original, Eva, aparece retratada como a causadora de todos os nossos males. Não fora a sua ambição por provar o fruto proibido (que ambição é essa, e que fruto é esse? a ambição de saber, claro), tinha ainda que desgraçar a vida ao pobre do Adão, que provavelmente se satisfazia plenamente a andar por ali no paraíso, em pelota o dia todo. Bastava deus ter dotado o homem da capacidade de auto-reprodução e estávamos aqui todos hoje, na maior, sem esta desgraça em que se tornou o mundo. Mas houve um propósito em dividir os sexos. Pelo lado materialista da questão, foi isso que possibilitou a evolução das espécies, e pelo lado espiritual, é isso que nos permite explorar o amor, e obviamente esse palco infindável das relações inter-pessoais, que serão talvez o único propósito desta vida terrena.
Mas eu sempre gostei do papel da serpente (e da Eva, claro), nesta história. Eu prefiro chegar à conclusão de que sou um fantoche nas mãos do destino, do que o ser e nunca o saber. Tal como o Neo do Matrix original, prefiro tomar a pastilha e arrancar os tubos todos. Poderá haver quem prefira o contrário, que se sinta bem na doce ilusão, mas eu advogo que Eva fez muito bem. Não foi o fim: foi o início! E nenhum humano que se preze pode verdadeiramente preferir a ignorância, ainda que a fábula do paraíso, como metáfora desse estado puro inalcançável, possa despertar alguma nostalgia (na verdade, como Jesus referiu, a solução não é fugir daqui para o paraíso, mas sim trazer para cá o reino dos céus – ele até já aqui está...).
Mas continuando. No novo testamento temos Maria, mãe e virgem. Sempre abaixo do pai e do filho, como compete (até abaixo do espírito santo, seja lá ele o que for). Basicamente só é permitido a uma mulher atingir estatuto de deusa desde que se prive de tudo o resto. Fica em casa a cuidar dos filhos (mãe), e não pode minimamente divertir-se (virgem). Não dança em cima de uma pilha de homens nem usa um colar de caveiras dos (amantes?) que derrotou, como a deusa negra Kali. Não, Maria, pese embora o culto merecido que ao longo dos séculos a tem tentado resgatar desta subalternidade, como uma deusa de pleno direito, continua ainda assim a ser uma personagem secundária neste enredo. A Virgem Mãe é para além disso a imagem corporificada do sofrimento abnegado. É para isso, diz a igreja, que as mulheres servem, e é pelo sofrimento que não questiona, e acima de tudo não se revolta, que elas podem melhor cumprir o papel que deus (leia-se, a igreja) lhes vaticinou.
Será que é esta a razão porque tantas mulheres desrespeitadas, ou violadas impunemente, carregam ainda hoje uma culpa surda, de quem se acha responsável por uma situação em que não passa de vítima? Compreendo que a profunda devassidão que uma mulher deve sentir nessa situação pode levar a que ela nunca a denuncie. Mas muitas mulheres ainda por cima se consideram culpadas, quanto mais não seja subconscientemente... Mas qual foi a vossa culpa? Serem belas?
A outra grande mulher no Novo Testamento, Madalena, é ainda pior tratada, sendo apelidada de prostituta, não fosse tornar-se demasiado poderosa e ofuscar o protagonista da história (há quem defenda que se trata de uma tentativa deliberada de a desacreditar). Jesus ele próprio sempre se referiu a favor das mulheres (em particular dessa), e foi apenas a deturpação da sua mensagem por fins políticos, que levou ao presente estado das coisas (sobre este tema, embora não tenha nada a ver, recordo aqui outra discrepância: um homem que tenha várias mulheres, é um herói, para os outros homens pelo menos; mas uma mulher que tenha vários homens é uma... bem, é só mais uma das injustiças a que vocês se têm resignado).
Pois bem, talvez esteja chegada a hora de inverter as coisas, de as mulheres se unirem (este aspecto é importante, já voltarei a ele) e reconquistarem o que é seu por direito. O seu saber e o seu poder. E obviamente o seu prazer, que esta coisa de apenas darem prazer aos homens já devia ter acabado há muito.
As mulheres são tão capazes ou mais de conduzir o mundo quanto os homens. Talvez seja precisamente isso que o mundo agora precisa, já há testosterona a mais, e se virmos com atenção os grandes males do mundo actual, resultam todos de jogos de poder, na maior parte dos casos resultantes da tentativa de certos líderes mundiais (masculinos, claro está - tirando a Margaret Thatcher não me recordo agora de nenhuma mulher num alto cargo de poder, e mesmo a Margaret não se pode dizer que fosse a melhor representante do ideal feminino em todo o seu esplendor) de afirmar a sua masculinidade... Não haveria tantos elementos fálicos envolvidos se assim não fosse (mas só tem necessidade de se afirmar, quem duvida de si).
Falei há pouco de união entre as mulheres, porque pelo menos os homens, embora animais mais limitados, mantêm-se unidos para seu próprio interesse, enquanto as mulheres, talvez resultante da mesma aculturação que as tornou submissas dos homens, competem umas com as outras, para lá do que é a sua própria vantagem. Esta é uma situação que vocês precisam de inverter, se querem chegar a algum lado. A união faz a força, caso um lugar comum tão batido possa ajudar, mas também não é "tornando-se homens" que lograrão esse objectivo. Vocês têm que vencer, usando as vossas armas, aquilo que vos distingue, em vez de provar aos homens que sabem usar as armas deles tão bem ou melhor quanto eles. Esta última estratégia já vocês tentaram e não vos trouxe grandes resultados. O mundo precisa de mulheres femininas, muito mais do que de feministas.
Já vimos o que o homem quer, e o que o mundo precisa. Mas afinal, mulher, o que é que TU queres?
Até onde a minha perspectiva limitada masculina pode alcançar, eu parece-me que tu no fundo só queres que te deixem ser quem és, como és.
Ouçam homens: o que as mulheres querem é ser amadas sem a nossa tendência primitiva para as tentar dominar, para usar um eufemismo. Querem que as reconheçamos (que nos deslumbremos, melhor dizendo, e como não?) pelo que elas SÃO, e não pelo efeito que provocam no nosso sistema hormonal (apenas).
Mas para lá desta densidade primitiva (chamemos-lhe estupidez) que todos nós homens partilhamos, sabemos também muito bem que a única forma de vos iludirmos é fingindo que todo o nosso mundo gira em torno de vós (e até nem é muito difícil fingir). Todo o homem já sabe, porque observou o seu pai e o seu avô e por aí fora, e vem duma longa linhagem de homens espertos, que basta enganar-vos até ao casamento, ou melhor, nem isso, e lá conseguimos nós o que queríamos. Sexo! (lamento meninas, mas é)
Depois do casamento a coisa está garantida para nós homens. Já lá vai o tempo dos nossos avós, ou mesmo dos nossos pais em que o objectivo da vida da mulher era a dedicação total ao marido e aos filhos, mas ainda assim assistimos a uma elevada dose de transigência e de auto-diminuição feminina, mesmo entre os jovens e recém casados. A mulher pode achar que já conquistou o direito a exercer uma carreira, mas é dela ainda, maioritariamente, a responsabilidade de tratar da casa e de "servir" o marido. Se conseguir conciliar tudo, então pode ter uma carreira (ena, mais trabalho... como se ser dona de casa não fosse uma tarefa a tempo inteiro – mas pelo menos estás a fazer o que queres, o que é um começo); mas se a coisa der para o torto, é um direito masculino azucrinar a cabeça à mulher por causa de ter deixado acabar o papel higiénico, ou não haver copos lavados no armário. Nunca nos passa pela cabeça sair para ir ao super-mercado, ou arregaçar as manguinhas e passar um copo por água.
E a coisa complica-se após nascerem os filhos. Para muitos homens o papel do pai acaba na concepção, mas para a mulher, agora, além da casa, e do emprego, há que cuidar dos rebentos. Há que arcar com as culpas da educação (só as culpas, porque o mérito é sempre dos dois, mas quando algo corre mal, a mãe é que "os estraga"). A mulher que já tinha dois empregos passa a ter três. Isto se excluirmos as suas obrigações inerentes ao casamento, género, hã.. vocês sabem.
E querem vocês mulheres, no meio deste turbilhão todo, ainda sentir algum prazer? Algum desejo? Se pelo menos vos reconhecêssemos o esforço... mas quantas vezes, no fim deste esforço todo, desta dedicação toda, só ouvem ainda queixas e ingratidão?
Quando a pressão se torna insuportável, só há duas opções. Ou tudo permanece recalcado ao abrigo daquele contrato que infelizmente não tem cláusula de rescisão, e basicamente se morre por dentro aos pouquinhos, até se morrer por fora de vez (as mulheres são peritas em se sacrificar), ou quando eventualmente chegam à conclusão que "até que a morte nos separe" é demasiado tempo, os danos que se provocam no casal, e inevitavelmente nos filhos, são um elevado preço a pagar.
E não há garantias que o recomeço seja diferente.
Que é que aconteceu à paixão e ao romance? Em tempos vocês souberam exigir essa atenção, porque não agora? Se vos falta algo, exigei porque o merecem. Não se contentem com a mediocridade. Deveis mais respeito a vós próprias do que esse.
Mas não esperem que as coisas mudem por si. Em particular não esperem que sejamos nós homens a tomar a iniciativa. A gente só muda mesmo em último caso, a nossa preguiça e o nosso comodismo é tal, que a gente só faz aquilo que sentir que é inevitável (porque no fundo sabemos muito bem que não vos queremos perder... ainda gostamos de vocês, mesmo que tenhamos desleixado as demonstrações; e que seria de nós, sozinhos, indefesos, sem saber lavar uma meia nem estrelar um ovo? e quem é que trata da casa e dos miúdos?? Help!!!!!! Vou voltar para casa da minha mãe... se ela ainda me aturar).
Qualquer homem que experimente desempenhar todas as tarefas diárias de uma mulher, por um dia que seja apenas, dá seguramente em doido... Comparadas com as nossas, as capacidades femininas são super-humanas. Mas nem é só por isso que precisamos de vocês. A gente no fundo ama-vos, e sentimo-nos homens a dar-vos esse amor... apenas nos esquecemos como se faz, também. Por isso tenham dó de nós só mais uma vez: ensinem-nos a reconquistar-vos!!!
Mas vocês têm toda as armas ao vosso dispor. Não preciso de vos dizer quais são pois não? Vocês sabem bem levar-nos aonde querem, basta, enfim, quererem...
Se querem que as coisas sejam diferentes, o primeiro passo é reconhecerem quem são. Voltarem a sentir essa ligação com a deusa que é vosso exclusivo. Mostrem-se como são, não se contentem com menos do que o que é vosso por direito. Não tenham medo de abanar o barco, porque mais medo temos nós de vos perder.
Não temam arriscar, e mesmo acabar uma relação se o vosso parceiro não vos demonstra a dedicação que vocês merecem. O mundo não acaba aí, o teu "homem de sonho" pode estar ao virar da esquina mas não vais estar disponível para ele se continuas com este. O que tiver que acontecer, acontece, mas se queres que a felicidade te encontre, tens que te tornar receptiva a essa mesma felicidade, tens que abrir um espaço para o amor entrar na tua vida, e para começar, nada melhor do que parares de dizer a ti própria que não o mereces.
Mas tenham também um pouco de pena dos vossos homens, dêem-lhes uma oportunidade, porque se vocês estão juntos alguma razão, também, haverá. Lembrem-se que eles não têm culpa de terem nascido seres mais limitados, e pode ser que depois de bem domesticados ainda vos proporcionem algum conforto e alguns prazeres nesta vida...
No fundo lembra-te sempre que tudo depende de ti... e isto ao invés de te preocupar e de te fazer duvidar da tua capacidade para o concretizar, deve-te motivar mais que qualquer outra coisa, porque sabes que essa força imensa dentro de ti já esteve aprisionada tempo demais.
Está na tua mão, Deusa! Mostra quem ÉS!