sábado, março 11, 2006

Fugindo à regra

A matéria é escrava. Nós somos matéria. Logo, nós somos escravos.

A saída para esta condição está na conclusão inevitável:
nós não somos matéria.

E a parte de nós que não é matéria, é livre.


O problema é que enquanto estiveres apegado à matéria, serás escravo, como ela.

E só quando abdicares do egoísmo, é que saberás o que é a liberdade.

A Lei do desejo ( 2ª parte: O Ego)

A Lei do Desejo... (Intro)

O desejo em si é uma função necessária dos nossos veículos carnais. Sem desejo, a vontade não serve para nada (posso fazer tudo, mas não me apetece fazer nada...).

Mas o desejo não pode ser escravo do ego.

Para que fique claro, vou esclarecer aqui o que entendo como ego: o ego é o conjunto das nossas reacções adquiridas. Será a nossa identidade, a forma como reagimos às mais variadas situações.

O ego é composto de um conjunto de separações arbitrárias, um conjunto de divisões que cada um de nós estabelece subjectivamente ao longo da vida, traçando linhas imaginárias em que de um lado colocamos aquilo que gostamos, e do outro, aquilo que pretendemos evitar.

Não ultrapassámos os impulsos primários de preservação e procriação. A comida e o sexo continuam a ser as pulsões mais primordiais, juntamente, claro, com o instinto de auto-preservação (os mecanismos do medo e da aversão).

Mas não estamos muito longe do cão do Pavlov. Se uma coisa nos causa dor, fica rotulada como má, e procuramos evita-la daí em diante. Se uma coisa nos proporciona prazer, género um osso, então fica rotulada como boa e tenderemos a reforçar o comportamento que a obteve, no futuro.

Basicamente perseguimos o prazer, e fugimos da dor (ou melhor, do sofrimento, porque a dor não é necessariamente traduzida em sofrimento, mais essa é uma das divisões subjectivas do ego).

E o nosso ego vai armazenando estes rotulozinhos todos, essas atitudes, essas reacções (é uma função necessária, sem ela não teríamos sobrevivido, e obviamente que os animais a terão também em diferentes proporções: uma mosca ou um elefante, precisam ambos de descobrir comportamentos bem sucedidos, bem como acções a evitar, se querem sobreviver num ambiente hostil e competitivo).

Mas isto é tudo imaginário: todas as rotulações, de bom ou mau, são no fundo irreais. Todas estas linhas imaginárias que traçamos são pessoais e subjectivas. O que para um pode ser mau, para outro será óptimo, e vice-versa, e se todos vemos a realidade de forma subjectivamente diferente, e não podemos estar todos certos - ou podemos? - então resta-nos concluir que a realidade não é como nenhum de nós a vê.

O que é pior, é que nos tornamos muitas vezes escravos das rotulações que fizemos, dos nossos julgamentos apressados ou diminuidores. E quem perde com isso somos nós. Ao rotular metade da realidade como má, estamos a rejeitar metade do mundo, e como não podia deixar de ser, se dele fazemos parte, metade de nós próprios.

Não quer isto dizer que devamos aceitar o mal, mas sim que precisamos compreender que tudo faz parte da vida, e a nossa tentativa de fechar os olhos a metade, só nos priva da tranquilidade da reconciliação dos opostos, e da integração completa.

Desperdiçamos imenso tempo e energia no esforço desmesurado de fugir de tanta coisa, e de perseguir tanta mais. Nessa correria toda como poderemos nós parar para viver? Como poderemos saborear o presente, na única oportunidade que alguma vez teremos de o fazer – agora? E que poderíamos fazer com esta energia imensa, se deixássemos de a desperdiçar assim?

Nenhum desejo se pode comparar ao único, verdadeiro desejo, que albergas dentro de ti...

Encontra esse desejo, e terás metade do sucesso garantido.

Alinha esse desejo com o desejo universal, e terás tudo o que quiseres.

A Força

Como é que conseguimos fazer as coisas que queremos fazer?

Queremos acreditar que fazemos uma diferença, que podemos agir sobre o mundo impulsionados pela nossa vontade.

Seja, mas donde vem essa força? E porque é que ela parece acabar?

Porque é que por vezes nos sentimos desesperados, e nos questionamos onde conseguiremos encontrar a força para prosseguir? Que fazer nesses casos?

O primeiro passo é acordar! Deixar de fingir! Recordar quem somos de verdade, por debaixo desta aparência de fragilidade carnal. Aí debaixo reside um poder, do qual emanamos... o qual Somos. Um poder que está sempre cá, embora quando nos sintamos fatigados, tenhamos deixado o excesso de pensamento (mente/cérebro) ocultar a verdade (amor/coração).

Basta parar, por um instante, e olhar para dentro, para que se abra o caminho de volta a esse lugar mágico, onde nada te falta, e nada te pode perturbar. E quando redescobres esse poder, nada parece impossível. Cessam as dúvidas e as inseguranças, e tudo transborda com a força da tua autoconfiança e do teu amor.

Mas com esse poder vem uma responsabilidade. Não é uma responsabilidade custosa, pois resulta naturalmente do facto de nos sabermos capazes de tudo, e querermos agir. É a responsabilidade de usar esse poder para o bem. Se queres ter o direito de mover o mundo, tens também o dever de fazer algo de bom por ele.

Quando pensamos em ajudar os outros, automaticamente esquecemo-nos dos nossos próprios problemas, portanto alegra-te que já estás a ajudar alguém: tu próprio(a). E agora com "a força" do teu lado, irás longe...

sexta-feira, março 10, 2006

Vamos passar à Prática!!!

Brevemente, aqui...







(aproveita este tempo para responder a uma pergunta...

O QUE É QUE TU REALMENTE QUERES?

dou-te uma ajuda: o que é que tu mais gostas??? O que é que te dá mais prazer nesta vida?
quando é que te sentes mesmo VIVO(A)??

a resposta anda aí perto... basta retirar-lhe tudo o que for egoísmo, mas manter tudo o que te faz feliz)

O Plano

Se acreditarmos nas leis da física é inevitável chegar à conclusão de que tudo o que acontece, não podia deixar de ter acontecido, e consequentemente, embora pensemos que fomos nós que decidimos, já estava escrito que iríamos decidir assim.

O plano anda inevitavelmente em ciclos, sendo que cada partícula neste mar, dança em conjunto com outra partícula noutro ponto qualquer deste mesmo mar (afinal, não requer a gravidade que assim seja?).

Se queres que alguma coisa mude, neste universo, terás que exercer uma tremenda força... não te parece? Se o universo já está num equilíbrio absoluto, resultante sei lá do quê, mas pronto, em que obviamente cada partícula gravita em torno de todas as outras, pois não é isso que nos mostram as evidências? Galáxias, sobre galáxias, a rodopiar? - então será possível, nós seres humanos, termos alguma capacidade de mudar alguma coisa? Seremos diferentes de toda a restante criação, que qualificamos de mineral, vegetal e animal? Em que é que somos mais do que isso?

Então não te parece estranho que possamos mexer-nos, sem que isso afecte o TODO? Sem que o universo tenha que abrir ali um espaço, ou re-arranjar planetas distantes que gravitavam a milhões de anos-luz, para tu conseguires mover esse pedaço de matéria que é o teu corpo?

ALGUÉM QUE ME EXPLIQUE ISTO EM TERMOS MATERIAIS!!!

Ou seja, não pode ser tudo material...
Obviamente que não pode ser...



Mas a lição qual é: às vezes mais vale compreender que o que tem que ser: é!

E se o quiseres mudar, não tentes (apenas) mudá-lo pelos meios materiais..

MUDA APARTIR DA TUA MENTE

Muda esse ponto de apoio na Matéria que é a TUA VONTADE

E tudo o resto mudará



(obviamente que quanto mais quiseres que essa mudança beneficie a ti, quanto a todos, melhores e mais rápidos serão os resultados)

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Afinal: temos liberdade de escolha ou não?

Como em todos os mistérios que se prezem, a resposta é não... e sim. Nim.

Do ponto de vista físico, temos tanta liberdade como tem um electrão, por exemplo. Já vimos que se quisermos acreditar que o universo é regido por leis invioláveis, e que houve uma causa-primeira, fora do nosso controle, que deu início à matéria e ao tempo (o big-bang), então desse momento em diante, o universo autogoverna-se por si, e toda a multiplicidade que vemos ao nosso redor, não depende de nada mais misterioso do que a natural evolução do universo, ao longo de milhões de anos, de acordo com leis, que embora porventura desconhecidas, estarão, por definição, bem para lá do nosso controle volitivo. A matéria foi criada por deus, digamos, e lançada com certas propriedades no espaço infinito. Os ciclos daí resultantes, as ondas de energia e matéria aí iniciadas, estão em movimento e inter-operação desde o início dos tempos, e nós, seres humanos e resto da vida em geral, fazemos também parte desses ciclos, somos compostos de energia e matéria que segue essas mesmas ondas primordiais, irreversíveis e incontroláveis.

Que consigamos preservar uma noção de livre vontade, como se pudéssemos de qualquer forma manter-nos à parte desses ciclos, e conseguir que o nosso lado material estivesse à margem dessas leis inevitáveis, não deixa de ser curioso.

Pelo lado físico (entenda-se, materialista) da questão, não pode haver qualquer livre-arbítrio, qualquer decisão que não estivesse ela própria irremediavelmente prevista pelas leis primordiais e pelo comportamento natural das forças do universo.

Mas comecei por dar o exemplo do electrão. O electrão, até onde conseguimos já perceber, é regido por leis probabilísticas que determinam, não a sua posição e velocidade precisas, mas a probabilidade de ele se encontrar num dado local, com uma dada velocidade. Dessa forma, podemos chegar à conclusão que existem leis que elas próprias não permitem um determinismo completo, actuando apenas como limitadores probabilísticos mantendo sempre um certo grau de incerteza. Umas coisas são mais prováveis que outras, mas nem tudo é possível (senão não teríamos sequer algo que arriscamos chamar de lei).

Mas isso além de não nos explicar de que depende efectivamente a concretização das diversas probabilidades possíveis (no afinal quem toma a decisão? quem joga os dados?), continua a não abonar nada em favor da nossa capacidade de decisão... Deixamos de ser seres indefesos, seguindo um rumo traçado previamente, sobre o qual não temos nenhum controle, para sermos seres à deriva num oceano de probabilidades aleatórias, sobre o qual não temos nenhum controle. Deixámos de ter um plano predeterminado (é verdade, passámos a andar ao calhas), mas continuamos a não ter qualquer controle sobre o nosso destino.

E isto até aqui é tudo raciocínio lógico, aplicado à física, e sobre o qual, na minha limitada compreensão, me permito filosofar.

O universo foi criado, é tudo o que podemos constatar, e a partir daí nenhuma intervenção volitiva é, ou será, necessária para explicar nada. O universo autogoverna-se, e muito bem, devo acrescentar (por alguma razão não governamos nós o universo, deus sabe que se quer uma coisa bem feita, é melhor faze-la ele). Houve um misterioso início, e nós, tal como tudo o resto que foi, é e será, somos também um produto desse início. Não somos causadores de nada e não temos sequer a capacidade de agir (entenda-se, agir por conta própria). Somos apenas reacção, pois no fundo somos compostos da mesma energia e matéria, que deus pôs em marcha no início dos tempos, e deus governa como se comporta, desde então (substitui "deus" por "leis da física" se isso te ajudar a compreender).

A questão da vontade nem se põe, pois para haver vontade tínhamos que a poder expressar de alguma forma, e nós limitamo-nos a ser expressados por uma vontade superior, embora presunçosamente achemos que não. A marioneta, julga-se o marionetista. A bala de canhão, julga que está a decidir onde vai cair... (enfim, basicamente é assim: podes escolher aonde cais, desde que seja... AQUI).

Mas isto, volto a dizer, é apenas raciocínio lógico, aplicado a alguns pressupostos da física moderna. Não estou mais do que a tentar aprender a lição.

Antes de prosseguires, certifica-te que chegaste já à mesma conclusão que eu: se o universo é regido por leis imutáveis – pressuposto nº 1 - e se essas leis tomaram o controle a seguir à causa primeira – pressuposto nº 2 – então somos apenas resultado dessas leis, e não temos qualquer capacidade volitiva que esteja para além delas.

Pelo lado materialista da questão, não existe livre-arbítrio, não existe livre-vontade, e o que nos parece a nossa decisão, é no fundo o único resultado possível, dada a nossa situação presente, e um conjunto de leis que governam o nosso movimento futuro.

A matéria é escrava. Existe outra explicação?

A partir deste momento temos que abandonar a física, e valer-nos da metafísica se queremos ir mais além.

O que nos pode salvar desta aparente inevitabilidade? (isso se quisermos ser salvos, porque só queremos ser nós a decidir, se for para decidir algo melhor, mas se a decisão que está tomada por nós, for a melhor decisão para nós, aquela que iríamos decidir se por artes mágicas se suprimissem as leis e decidíssemos por nós próprios, então tal não representa grande problema... deus decidiu por nós, mas decidiu para nós).

O que apresento é uma possível solução para este impasse, que implica obviamente que sejamos mais do que matéria (pois a matéria, como vimos, está irremediavelmente condenada a seguir o plano pré-estabelecido).

O universo pode já estar todo criado, passado presente e futuro existindo em simultâneo, nessa vastidão do espaço-tempo (isto, ainda, é uma teoria física, bastante aceite até). Inclusive todas as nossas possíveis decisões, e as suas respectivas consequências, num infinito holograma em que a partir de tudo, se alcança tudo, pois cada partícula do universo tem em si a explicação toda (esta ideia também não é nova).

O que não será porventura tão fácil de aceitar, é que a nossa natureza essencial não seja composta de matéria, mas antes de consciência (o que, enquanto teoria, não é novidade nenhuma, pelo menos fora dos círculos académicos – os vedas, por exemplo, afirmavam-no já há 5000 anos atrás). Essa consciência primordial, que partilhamos com o universo inteiro, e inclusive com deus, é o que nos poderá permitir ir além das barreiras materiais. Pois a consciência não pode ser governada por leis: a consciência é livre! Do ponto de vista metafísico, e segundo esta teoria, não passamos então de focos de atenção. Para onde dirigimos essa atenção, é para onde nos parece que a nossa vida se desenrola.

Todas as possíveis realidades existem já no espaço-tempo. O que chamamos tempo não é mais do que a nossa atenção a deslocar-se de uma para outra, e o que interpretamos como o decorrer da nossa vida, é um conjunto de instantes pontuais do espaço-tempo, que vamos atravessando com o fio condutor da nossa atenção, tal como se enfiássemos contas coloridas através de um fio (resultado o "colar" final, naquela que foi a nossa presente existência).

Voltando ao electrão, ele foi na verdade por aqueles caminhos todos, e é a nossa escolha de qual o local para onde olhamos que vai determinar se o vemos ou não. Isto poderá não fazer muito sentido, pois estamos habituados a acreditar que uma dada coisa - seja um electrão, ou outra qualquer - só pode estar num sítio de cada vez. Mas o electrão em particular, parece desafiar esse conceito, e sendo assim, talvez a matéria seja mais elusiva do que a creditamos.

Somos nós, então, que escolhemos para onde queremos olhar. Não dominamos a matéria, mas podemos escolher onde focamos a nossa atenção. Assim, não precisamos de ter intervenção sobre a matéria, o que seria impossível, como vimos atrás, mas podemos escolher qual a matéria que queremos ver, e assim, escolher de alguma forma como se desenrola o nosso futuro (sempre é o nosso colar, por isso podemos escolher as contas que queremos nele). Talvez como o electrão, tenhamos que passar por todos os "colares de decisão" possíveis para nós. Mas isso sem dúvida exigirá várias vidas (um tema para depois).

Esta teoria tem a dificuldade de não poder ser testada. Ou melhor, embora possas muito bem concluir para ti que representa a verdade, tal dever-se-á inevitavelmente ao resultado de um caminho de auto-descoberta, de introspecção e de questionamento interno, muitas vezes para lá do pensamento conceptual.

É impossível, para quem medita, negar a existência dessa atenção primordial e profunda que é o âmago da nossa consciência. Mas dificilmente a colocaremos num tubo de ensaio... E as tentativas de o fazer, resultarão, por vício de prova, na materialística conclusão de que tudo se deve à operação natural dos nossos sistemas físicos (supostamente sendo o cérebro o produtor dessa consciência).

No entanto aquilo em que decidires acreditar terá implicações profundas para a tua própria liberdade...


Deixo-te a pensar nisto, por agora.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Isto é tudo uma grande treta

ah pois é!





(este é o típico post no blog quando não se sabe o que é que se há-de dizer)




(óh menos sempre aproveitei para escrever algo de grande significância)

Mulher, porque te resignas?

Chego agora a um tema que considero fundamental, e acreditem ou não, foi uma das razões porque criei este blog. Para ter oportunidade de vos dizer isto.

Mulher, tu és a deusa! E não consigo bem compreender porque te deixaste dominar estes anos todos, e hoje ainda não te livraste totalmente da bagagem cultural limitativa com que os homens te tentaram negar a consciência do teu poder intrínseco. Porque é que sendo tu tanto, continuas a achar-te sempre menos? Porque pareces esperar um reconhecimento que deverias até recusar por dele não precisares?

Não vou fingir que sei o que vos vai na cabeça. Sinto-me atraído pelos grandes mistérios da criação (e que maior mistério haverá?), mas embora sendo homem (e heterossexual, não que isso importe), penso que consigo desligar-me de condicionalismos machistas o suficiente (não totalmente, que a minha anatomia não permite) para poder opinar de forma justa para ambos os lados. Ou a ser injusta que seja para com os homens, que afinal têm tido uma vidinha regalada estes séculos todos. Mas aviso já que nalguns momentos terei que usar uma abordagem nua e crua que poderá chocar um pouco.

Também tenho que esclarecer que não vejo as mulheres como submissas, embora haja normalmente um maior ou menor grau de submissão inerente à condição feminina (esta submissão, no sentido de receptividade, não tem que ser uma coisa má - é só uma outra maneira de alcançar os mesmos resultados). Mas estas palavras não se destinam tanto às mulheres independentes, livres e esclarecidas, que conquistaram há muito o seu lugar de iguais, que é o pretendido. Simplesmente, nada me revolta mais do que as injustiças, as tentativas de aprisionamento e submissão, que alguns prepotentes têm cometido (e as crianças e as mulheres têm sido das mais sacrificadas), e nesse sentido espero que estas palavras possam inspirar alguém, ao confronta-las com o essencial da sua condição: que está nas suas mão mudar! E sem um bom safanão, não vos vejo a mudar radicalmente de volta ao que já são, como a situação exige.



Há logo à partida uma situação paradoxal, naquele que é o jogo dos sexos. O sexo "fraco" (o sexo não deve ser fraco, se é fraco é porque estão a fazer alguma coisa errada, devia ser até bastante bom, mas já lá vamos) supostamente é o sexo que é conquistado, que se deixa conquistar. Mas parece-me que as mulheres investem imensamente mais em ser conquistadas, do que os machos em conquistar.

No restante da criação, são os machos que se "produzem" e procuram conquistar a atenção das fêmeas. O impulso de procriar é a lei, mas as possibilidades de o concretizar são escassas e a competição é muita. Com o reino humano as coisas seriam iguais, não fosse uma pequena assimetria na compleição física.

No entanto o domínio dos homens sobre as mulheres não teria ido avante com base na superioridade física apenas (as mulheres teriam desenvolvido músculos brutais, e passado uns anos dominavam elas os homens). A gente teve que vos enganar de alguma forma, ou não teria sido possível manter-vos aprisionadas este tempo todo.

Em tempos que já lá vão (um bocadinho depois dos dinossauros) as mulheres governavam o mundo. Foram as mulheres as tradicionais detentoras do saber, as regentes dos templos antigos (os reservatórios de saber da época), que constituiam a elite do poder. As sacerdotisas eram as guardiãs do saber, longe da imagem, generalizada como hoje está, do sacerdote mediador com deus. Literalmente, as mulheres é que sabiam (agora os homens ainda sabem que elas sabem, mas elas deixaram-se fingir que não sabem).

Nesses tempos idos, os homens serviam para caçar e defender o território, ponto final. Ah, e para aquela outra função, mas somente quando as mulheres assim o desejavam (ainda agora devíamos demonstrar-lhes esse mesmo respeito, mas desenvolvemos técnicas sofisticadas de chantagem emocional para levar a nossa melhor).

As mulheres é que eram as detentoras do conhecimento religioso, e serviam de intermediárias para com a deusa mãe, que nesses tempos ainda governava o universo.

Mas o conhecimento, como a igreja bem cedo descobriu, é poder. E tanto poder nas mãos das mulheres começou a fazer confusão a um conjunto crescente de homens inseguros (que outra razão poderia haver para se sentirem ameaçados?) .

A primeira medida para roubar esse poder às mulheres foi criarem um deus homem. Também nunca ninguém lhes tinha passado pela cabeça que deus fosse outro que não uma grande mãe, afinal não eram as mulheres a dar à luz? Quem melhor para dar à luz o universo que uma deusa cósmica?

Este deus homem viria a ser o responsável pela desentronização da deusa mãe (à bruta, devo acrescentar) do seu lugar natural e por direito. (uma outra forma eficaz de sonegarem o poder feminino, que mantêm até hoje, foi negarem o sacerdócio às mulheres; nunca te perguntaste porque não pode haver padres mulheres? é simples: menina não entra!).

As tradições pagãs milenares, em contrapartida, sempre viram a mulher em toda a riqueza dos seus múltiplos arquétipos: virgem, mãe, amante, guerreira, sacerdotisa, deusa... Os arquétipos masculinos são mais limitados: o guerreiro e o sábio ermita, basicamente. Se atentarmos à astrologia, temos os aspectos duais femininos da mãe, por um lado, e da amante/guerreira por outro, retratados na Lua e em Vénus respectivamente. Na contrapartida masculina basta um único planeta, Marte, todos os outros sendo em minha opinião, igualmente masculinos e femininos (não me parece correcto considerar Mercúrio, Júpiter ou Saturno como exclusividade masculina, embora a imageria clássica assim sugira; os aspectos que representam - em termos simplificados: a imaginação, a expansão e a contracção - são características universais).

Se rumarmos a oriente, então, a posição não hierárquica, mas complementar, dos sexos está ainda mais refinada. Na concepção taoista, por exemplo, homem e mulher, masculino (yang) e feminino (yin), são parte de um mesmo todo em constante mutação. Nenhum pretende ter uma supremacia sobre o outro, porque em última análise se necessitam mutuamente, e são apenas cada um, em relação ao outro, não se podendo dizer que na ausência do complemento, qualquer um por si, exista de verdade. É o mais perto que podemos chegar da relação harmoniosa entre os sexos: iguais (na sua diferença) e complementares.

Com a igreja institucionalizada, no entanto, as coisas modificam-se. A mulher original, Eva, aparece retratada como a causadora de todos os nossos males. Não fora a sua ambição por provar o fruto proibido (que ambição é essa, e que fruto é esse? a ambição de saber, claro), tinha ainda que desgraçar a vida ao pobre do Adão, que provavelmente se satisfazia plenamente a andar por ali no paraíso, em pelota o dia todo. Bastava deus ter dotado o homem da capacidade de auto-reprodução e estávamos aqui todos hoje, na maior, sem esta desgraça em que se tornou o mundo. Mas houve um propósito em dividir os sexos. Pelo lado materialista da questão, foi isso que possibilitou a evolução das espécies, e pelo lado espiritual, é isso que nos permite explorar o amor, e obviamente esse palco infindável das relações inter-pessoais, que serão talvez o único propósito desta vida terrena.

Mas eu sempre gostei do papel da serpente (e da Eva, claro), nesta história. Eu prefiro chegar à conclusão de que sou um fantoche nas mãos do destino, do que o ser e nunca o saber. Tal como o Neo do Matrix original, prefiro tomar a pastilha e arrancar os tubos todos. Poderá haver quem prefira o contrário, que se sinta bem na doce ilusão, mas eu advogo que Eva fez muito bem. Não foi o fim: foi o início! E nenhum humano que se preze pode verdadeiramente preferir a ignorância, ainda que a fábula do paraíso, como metáfora desse estado puro inalcançável, possa despertar alguma nostalgia (na verdade, como Jesus referiu, a solução não é fugir daqui para o paraíso, mas sim trazer para cá o reino dos céus – ele até já aqui está...).

Mas continuando. No novo testamento temos Maria, mãe e virgem. Sempre abaixo do pai e do filho, como compete (até abaixo do espírito santo, seja lá ele o que for). Basicamente só é permitido a uma mulher atingir estatuto de deusa desde que se prive de tudo o resto. Fica em casa a cuidar dos filhos (mãe), e não pode minimamente divertir-se (virgem). Não dança em cima de uma pilha de homens nem usa um colar de caveiras dos (amantes?) que derrotou, como a deusa negra Kali. Não, Maria, pese embora o culto merecido que ao longo dos séculos a tem tentado resgatar desta subalternidade, como uma deusa de pleno direito, continua ainda assim a ser uma personagem secundária neste enredo. A Virgem Mãe é para além disso a imagem corporificada do sofrimento abnegado. É para isso, diz a igreja, que as mulheres servem, e é pelo sofrimento que não questiona, e acima de tudo não se revolta, que elas podem melhor cumprir o papel que deus (leia-se, a igreja) lhes vaticinou.

Será que é esta a razão porque tantas mulheres desrespeitadas, ou violadas impunemente, carregam ainda hoje uma culpa surda, de quem se acha responsável por uma situação em que não passa de vítima? Compreendo que a profunda devassidão que uma mulher deve sentir nessa situação pode levar a que ela nunca a denuncie. Mas muitas mulheres ainda por cima se consideram culpadas, quanto mais não seja subconscientemente... Mas qual foi a vossa culpa? Serem belas?

A outra grande mulher no Novo Testamento, Madalena, é ainda pior tratada, sendo apelidada de prostituta, não fosse tornar-se demasiado poderosa e ofuscar o protagonista da história (há quem defenda que se trata de uma tentativa deliberada de a desacreditar). Jesus ele próprio sempre se referiu a favor das mulheres (em particular dessa), e foi apenas a deturpação da sua mensagem por fins políticos, que levou ao presente estado das coisas (sobre este tema, embora não tenha nada a ver, recordo aqui outra discrepância: um homem que tenha várias mulheres, é um herói, para os outros homens pelo menos; mas uma mulher que tenha vários homens é uma... bem, é só mais uma das injustiças a que vocês se têm resignado).

Pois bem, talvez esteja chegada a hora de inverter as coisas, de as mulheres se unirem (este aspecto é importante, já voltarei a ele) e reconquistarem o que é seu por direito. O seu saber e o seu poder. E obviamente o seu prazer, que esta coisa de apenas darem prazer aos homens já devia ter acabado há muito.

As mulheres são tão capazes ou mais de conduzir o mundo quanto os homens. Talvez seja precisamente isso que o mundo agora precisa, já há testosterona a mais, e se virmos com atenção os grandes males do mundo actual, resultam todos de jogos de poder, na maior parte dos casos resultantes da tentativa de certos líderes mundiais (masculinos, claro está - tirando a Margaret Thatcher não me recordo agora de nenhuma mulher num alto cargo de poder, e mesmo a Margaret não se pode dizer que fosse a melhor representante do ideal feminino em todo o seu esplendor) de afirmar a sua masculinidade... Não haveria tantos elementos fálicos envolvidos se assim não fosse (mas só tem necessidade de se afirmar, quem duvida de si).

Falei há pouco de união entre as mulheres, porque pelo menos os homens, embora animais mais limitados, mantêm-se unidos para seu próprio interesse, enquanto as mulheres, talvez resultante da mesma aculturação que as tornou submissas dos homens, competem umas com as outras, para lá do que é a sua própria vantagem. Esta é uma situação que vocês precisam de inverter, se querem chegar a algum lado. A união faz a força, caso um lugar comum tão batido possa ajudar, mas também não é "tornando-se homens" que lograrão esse objectivo. Vocês têm que vencer, usando as vossas armas, aquilo que vos distingue, em vez de provar aos homens que sabem usar as armas deles tão bem ou melhor quanto eles. Esta última estratégia já vocês tentaram e não vos trouxe grandes resultados. O mundo precisa de mulheres femininas, muito mais do que de feministas.


Já vimos o que o homem quer, e o que o mundo precisa. Mas afinal, mulher, o que é que TU queres?

Até onde a minha perspectiva limitada masculina pode alcançar, eu parece-me que tu no fundo só queres que te deixem ser quem és, como és.

Ouçam homens: o que as mulheres querem é ser amadas sem a nossa tendência primitiva para as tentar dominar, para usar um eufemismo. Querem que as reconheçamos (que nos deslumbremos, melhor dizendo, e como não?) pelo que elas SÃO, e não pelo efeito que provocam no nosso sistema hormonal (apenas).

Mas para lá desta densidade primitiva (chamemos-lhe estupidez) que todos nós homens partilhamos, sabemos também muito bem que a única forma de vos iludirmos é fingindo que todo o nosso mundo gira em torno de vós (e até nem é muito difícil fingir). Todo o homem já sabe, porque observou o seu pai e o seu avô e por aí fora, e vem duma longa linhagem de homens espertos, que basta enganar-vos até ao casamento, ou melhor, nem isso, e lá conseguimos nós o que queríamos. Sexo! (lamento meninas, mas é)

Depois do casamento a coisa está garantida para nós homens. Já lá vai o tempo dos nossos avós, ou mesmo dos nossos pais em que o objectivo da vida da mulher era a dedicação total ao marido e aos filhos, mas ainda assim assistimos a uma elevada dose de transigência e de auto-diminuição feminina, mesmo entre os jovens e recém casados. A mulher pode achar que já conquistou o direito a exercer uma carreira, mas é dela ainda, maioritariamente, a responsabilidade de tratar da casa e de "servir" o marido. Se conseguir conciliar tudo, então pode ter uma carreira (ena, mais trabalho... como se ser dona de casa não fosse uma tarefa a tempo inteiro – mas pelo menos estás a fazer o que queres, o que é um começo); mas se a coisa der para o torto, é um direito masculino azucrinar a cabeça à mulher por causa de ter deixado acabar o papel higiénico, ou não haver copos lavados no armário. Nunca nos passa pela cabeça sair para ir ao super-mercado, ou arregaçar as manguinhas e passar um copo por água.

E a coisa complica-se após nascerem os filhos. Para muitos homens o papel do pai acaba na concepção, mas para a mulher, agora, além da casa, e do emprego, há que cuidar dos rebentos. Há que arcar com as culpas da educação (só as culpas, porque o mérito é sempre dos dois, mas quando algo corre mal, a mãe é que "os estraga"). A mulher que já tinha dois empregos passa a ter três. Isto se excluirmos as suas obrigações inerentes ao casamento, género, hã.. vocês sabem.
E querem vocês mulheres, no meio deste turbilhão todo, ainda sentir algum prazer? Algum desejo? Se pelo menos vos reconhecêssemos o esforço... mas quantas vezes, no fim deste esforço todo, desta dedicação toda, só ouvem ainda queixas e ingratidão?

Quando a pressão se torna insuportável, só há duas opções. Ou tudo permanece recalcado ao abrigo daquele contrato que infelizmente não tem cláusula de rescisão, e basicamente se morre por dentro aos pouquinhos, até se morrer por fora de vez (as mulheres são peritas em se sacrificar), ou quando eventualmente chegam à conclusão que "até que a morte nos separe" é demasiado tempo, os danos que se provocam no casal, e inevitavelmente nos filhos, são um elevado preço a pagar.

E não há garantias que o recomeço seja diferente.

Que é que aconteceu à paixão e ao romance? Em tempos vocês souberam exigir essa atenção, porque não agora? Se vos falta algo, exigei porque o merecem. Não se contentem com a mediocridade. Deveis mais respeito a vós próprias do que esse.

Mas não esperem que as coisas mudem por si. Em particular não esperem que sejamos nós homens a tomar a iniciativa. A gente só muda mesmo em último caso, a nossa preguiça e o nosso comodismo é tal, que a gente só faz aquilo que sentir que é inevitável (porque no fundo sabemos muito bem que não vos queremos perder... ainda gostamos de vocês, mesmo que tenhamos desleixado as demonstrações; e que seria de nós, sozinhos, indefesos, sem saber lavar uma meia nem estrelar um ovo? e quem é que trata da casa e dos miúdos?? Help!!!!!! Vou voltar para casa da minha mãe... se ela ainda me aturar).

Qualquer homem que experimente desempenhar todas as tarefas diárias de uma mulher, por um dia que seja apenas, dá seguramente em doido... Comparadas com as nossas, as capacidades femininas são super-humanas. Mas nem é só por isso que precisamos de vocês. A gente no fundo ama-vos, e sentimo-nos homens a dar-vos esse amor... apenas nos esquecemos como se faz, também. Por isso tenham dó de nós só mais uma vez: ensinem-nos a reconquistar-vos!!!

Mas vocês têm toda as armas ao vosso dispor. Não preciso de vos dizer quais são pois não? Vocês sabem bem levar-nos aonde querem, basta, enfim, quererem...

Se querem que as coisas sejam diferentes, o primeiro passo é reconhecerem quem são. Voltarem a sentir essa ligação com a deusa que é vosso exclusivo. Mostrem-se como são, não se contentem com menos do que o que é vosso por direito. Não tenham medo de abanar o barco, porque mais medo temos nós de vos perder.

Não temam arriscar, e mesmo acabar uma relação se o vosso parceiro não vos demonstra a dedicação que vocês merecem. O mundo não acaba aí, o teu "homem de sonho" pode estar ao virar da esquina mas não vais estar disponível para ele se continuas com este. O que tiver que acontecer, acontece, mas se queres que a felicidade te encontre, tens que te tornar receptiva a essa mesma felicidade, tens que abrir um espaço para o amor entrar na tua vida, e para começar, nada melhor do que parares de dizer a ti própria que não o mereces.

Mas tenham também um pouco de pena dos vossos homens, dêem-lhes uma oportunidade, porque se vocês estão juntos alguma razão, também, haverá. Lembrem-se que eles não têm culpa de terem nascido seres mais limitados, e pode ser que depois de bem domesticados ainda vos proporcionem algum conforto e alguns prazeres nesta vida...

No fundo lembra-te sempre que tudo depende de ti... e isto ao invés de te preocupar e de te fazer duvidar da tua capacidade para o concretizar, deve-te motivar mais que qualquer outra coisa, porque sabes que essa força imensa dentro de ti já esteve aprisionada tempo demais.

Está na tua mão, Deusa! Mostra quem ÉS!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

A astrologia funciona?

O pressuposto da astrologia é de que o comportamento dos astros tem uma influência predominante, embora não mandatória (não obrigam, sugerem... há sempre o cuidado de não retirar a questão do livre-arbítrio, mas eu retiro, não há problema) sobre a nossa personalidade, e todo o desenrolar da nossa vida mundana em geral.

A mim não me passa pela cabeça duvidar que os ciclos que ocorrem lá em cima nas altas esferas, tanto como aqui nas em-baixo esferas, tenham não só uma influência como determinem ao rigor quando é que cada pelo do meu corpo se eriça. O que me espanta é que haja quem pense que não faz parte desses mesmos ciclos, e de alguma forma não faz parte deste mundo, que se sabe que não acaba em mim e recomeça em ti, mas vai de mim a ti, e através de nós dois, sempre feito da mesma matéria básica.

Eu não duvido que façamos parte desses ciclos astrais, que todo o universo se mova junto, e de forma interligada, de todas para todas as particulas. O big-bang nunca acabou! E suspeito mesmo que pela inexorabilidade desse facto, não nos reste mais do que seguir junto com o que o universo decide fazer (não vejo que consiga eu mover-me para onde não sou suposto e obrigar assim todo o universo a reorganizar-se de acordo... acho que embora eu tenha alguma influência, sobre o resto do universo, o universo todo manda muito mais que eu - tem mais massa, já ouviram falar da gravidade? - e assim sou eu que me mexo).

Agora o que eu duvido é que a gente consiga compreender essa cena toda.
A astrologia enquanto ciência explicativa das influências dos ciclos astrais sobre a personalidade humana, pode realmente ficar aquém do esperado.

Não que não seja válida uma explicação provisória dessa influência com bases totalmente empíricas. Afinal a ciência ocidental ainda se recorre desse método, e não bastou a falta de conhecimento interno do corpo humano para que os chineses se vissem impedidos de desenvolver uma medicina válida, e em muitos casos tão ou mais eficaz quanto a ocidental. É muito bem possível compreender o universo a partir de uma perspectiva tão reduzida como esta que temos deste pequeno planeta da periferia.

Não esqueçamos que a astronomia também se engana e também anda à descoberta... Conseguimos espreitar mais longe no universo, mas não diminuiram as interrogações. E não esqueçamos também que os pais da astronomia, Galileu, Copérnico, Kepler, e por aí fora, eram todos eles astrólogos também. Não lhes passaria pela cabeça dissociar o estudo dos astros dos efeitos que esses forçosamente teriam nas gentes. As ciências gémeas siamesas só foram separadas recentemente, quando o cartesianismo sisudo tornou politicamente incorrecta a associação.

Mas não é tanto a incredulidade como a crença exagerada, que não se informa e não questiona, que maiores prejuízos tem provocado ao eventual benefício que poderíamos retirar também desta área de conhecimento.

Principalmente porque o rigor é pouco, e a desinformação, mais. E quando há rigor há em excesso, o que levanta suspeitas de um estratagema simples para impressionar uns quantos fortemente (aqueles para quem se acerta na mouche; mede-se o sucesso do astrólogo pelo poder monetário deste grupo), embora falhando mais ou menos rotundamente com a grande restante maioria. Mas não quero estar a discutir questões deontológicas.

O que eu peço para a astrologia não é uma devoção cega, mas o benefício da dúvida, e mesmo isso apenas na possibilidade (oportunidade?) que nos dá de nos conhecermos melhor a nós próprios, e a forma como reagimos ao mundo e interagimos com os outros, para melhor levarmos a cabo os nossos pequenos papéis, que são, ainda assim, únicos.Interessa-me apenas o possível uso desta semi-ciência, até porque advogo o estudo auto-didacta, sem passar por intermediários, e sites como o
www.astro.com tornam isso muito fácil (os trânsitos da lua, por exemplo, dada a sua efemeridade não desprovida de subtileza, permitem uma rápida confrontação com as potencialidades da astrologia... não funciona sempre, mas quase - há muitos factores, obviamente a ter em conta).

Há mais a dizer sobre a astrologia, mas terá que ficar para outra altura. Para agora deixo-te a oportunidade de explorares um dos meus sites favoritos, e de formares assim a tua própria opinião.

O site, de origem suíssa, foi o primeiro a disponibilizar efemérides exactas online (as efemérides pertencem ao campo da astronomia, são as posições exactas dos planetas e outros astros) e vende uma série de horoscopos de qualidade, mantendo embora imenso conteúdo gratuito.
Para começares a explorar o site (carrega em Free Horoscopes), tens que saber a tua data e hora (quanto mais exacta possível) de nascimento (se não souberes a hora há algumas maneiras de a tentar determinar: podes começar pela tua melhor tentativa, e ir afinando, nomeadamente pelas características do ascendente, que dependem da hora e são facilmente observáveis, inclusivé pelos teus traços físicos).
Tens também que fornecer o teu local de nascimento, mas o site conta com uma base de dados muito completa (escreve os nomes das terras sem acentos nem cedilhas!), e se não tiver o teu local exacto de nascimento procura uma cidade próxima, que não faz tanta diferença como com a hora.
Depois de introduzires os teus dados, tens acesso a uma panóplia de informação. Tens os trânsitos diários, previsões futuras, horóscopos compostos (entre duas pessoas, sim: love, mas não só) e mesmo horóscopos clickáveis (AstroClick... qualquer coisa), como o AstroClick Portrait, que te permite esplorar o teu próprio mapa astral carregando nos símbolos dos planetas e aspectos. Não te esqueças de picar no botãozinho que diz (PT) acima à direita para leres em português (embora o site ainda tenha partes por traduzir).
Esse pessoal porreiro do Astro ainda te permite gravar o teu perfil de utilizador e manter uma base de dados de nascimento dos teus familiares e amigos (MyAstro) pra não teres que introduzir os dados de cada vez.
Existem finalmente alguns artigos introdutórios à astrologia que convém ler, especialmente se o sistema de planetas, signos e casas te for completamente alheio.

Vale bem a pena uma visita (eles não me pagam para eu dizer isto, mas já me deram tanto à borla, que eu me sinto obrigado).



Mais lenha prá fogueira do livre-arbítrio

Que é que preferem, pré-determinismo, ou interacção mente-matéria?
Já vimos que é impossível conciliar a existência de leis deterministas (que são a base da ciência) e o livre-arbítrio humano (ou seja, se há leis, não há liberdade de escolha, e tudo está já pré-determinado).
Depois das coisas começarem a andar – e não fomos nós que as pusemos em marcha - todos os seus movimentos futuros não resultam de qualquer decisão, mas sim da acção e reacção de forças naturais que regem as interacções da matéria. Ou aceitamos que as balas de canhão têm vontade própria ou elas aterram onde a lei bem lhes manda (imagina agora que todas as tuas partículas são no fundo balas de canhão, disparadas por qualquer estrela ou pela grande explosão no início dos tempos).
Claro que por mais que me tenha divertido construir essa argumentação, ela tem que conter alguma falha, porque eu também gostava de acreditar que posso decidir algo por mim, e não me encontro simplesmente a ver o filme da minha vida a desenrolar-se (e eu a pensar que era o actor principal...).
Uma alternativa que referi foi a possibilidade de deus jogar aos dados, e haver assim alguma areia na engrenagem das leis cósmicas que lhes permitem trabalhar assim-assim.
Mas não sei o que será pior, se pensar que está tudo escrito de antemão, ou que tudo se processa ao acaso! De qualquer das formas continua a não haver nenhuma intervenção da nossa parte!
Essas leis probabilísticas continuam a não permitir chegar a conclusões precisas. Se existe um grau de improbabilidade, então quem é que decide qual das probabilidades é finalmente concretizada em realidade? Quem é que comanda o colapso da função de onda, numa onda específica (a onda real)?
Parece-me a velha discussão do fatalismo versus livre-arbítrio continua incólume, agora numa nova roupagem. Chegámos mais perto da solução, apenas para ver que não avançámos nada em termos do dilema essencial que se nos coloca.
A alternativa, para mim, está num outro sapo difícil de engolir.
Essa incerteza subjacente ao universo quântico, é de alguma forma afectada pela nossa mente, e por quaisquer meios ainda totalmente obscuros, é não simplesmente um factor aleatório, mas a nossa própria energia volitiva (nossa, no sentido de tudo aquilo que tem vontade, por esse universo fora), que permite que o universo se vá moldando a si próprio, fora de padrões rigidamente estabelecidos à priori.
Das duas, três: ou tudo é determinista, ou tudo é absolutamente caótico, ou no meio desses dois extremos a nossa mente (ou alguma mente, vá, que a nossa não será talvez das melhores) tem algo a dizer.
Como o universo mecanicista da primeira hipótese é já comummente desacreditado, e suspeito que muitos cientistas se sintam tão pouco à vontade com um universo aleatório como com um universo fatalista, então resta à ciência digerir a plausibilidade de uma interacção mente-matéria.
Boa sorte!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

A Lei do Desejo... (Intro)

O desejo é talvez o maior mistério. É aparentemente o verdadeiro motor das nossas vidas, aquilo que nos faz agir da forma que agimos, para o bem e para o mal (se ainda acreditas que és tu que rege o show, talvez ainda não tenhas lido o suficiente deste blog).
Se a vida é feita de escolhas, então mais do que nós próprios, os nossos desejos é que as fazem. Somos capazes dos maiores feitos ou das maiores degradações, quando agimos motivados pelo desejo.

Buda (e basicamente toda a comunidade espirito-religiosa desde então, algumas facções usando de requintes de crueldade) pintou o desejo como uma coisa, bem, digamos que MÁ! Ou melhor PÉSSIMA!
E realmente pode ser. Mas se eu não tiver o desejo todos os dias pela matina, de pôr os pés fora da cama e trabalhar, não imagino que bem possa vir ao mundo (pensando bem, há dias que mais valia lá ficar, pró meu bem e do mundo, mas neste exemplo estou a falar hipoteticamente, de uma pessoa que, ao contrário de mim, trouxesse algum bem ao mundo).

Bem, na verdade não estou a ser correcto. O que realmente é mau não é o desejo, se entendermos o desejo, rigorosamente, como essa força motivadora (para o bem e para o mal mas não necessariamente). O problema é o apego - ou seja, a nossa incapacidade de controlar o desejo - essa nossa tendência para nos tornarmos dependentes de tudo e de todos (e a consequente série de desgraças que essa auto-inflingida escravidão traz sobre nós em particular e o resto do mundo em geral)!
Esse animal selvagem que é o desejo, pode ser uma tremenda ajuda... se o conseguirmos domar. Mas será com toda a certeza uma imensa fonte de problemas, se o deixarmos andar à solta.

Se algum propósito superior haverá para o desejo, esse facilmente se confundirá com o seu lado inferior se não mantivermos uma vigilância apertada (daí também a admoestação persistente, pois raros são os que a ele não sucumbem). É difícil? Claro, senão que interesse haveria? (que mérito haveria?) Mas o importante é que todos nós temos como exame de graduação a superação dessa prova.

Se não fosse possível, desejável, e garantidissimamente alcançável, que cada um de nós ultrapassasse com sucesso essa aprendizagem e se tornasse assim o melhor de si, em vida, - o que nos distinguiria de simples animais pavlovianos, agindo com base na busca de gratificações primárias e na aversão de penalizações?

Antes de prosseguirmos, uma declaração de intenções: daqui para a frente não quero (e tu também não deves!) julgar (-me ou –te)... Teria que me julgar a mim próprio para começar e já deixei de achar isso produtivo, pois mais não conseguiu que aprisionar-me ainda mais.

O que está feito, está feito. É hora de pensar no que PODES fazer daqui para a frente.

Tudo tem um propósito, e todas as coisas que já fizemos (ou não fizemos), no fogo da paixão (boa e má), serviram sem dúvida como lições (por vezes dolorosas) que aprendemos, mas foram e sempre serão (NUNCA DUVIDES DISSO!) necessárias e indispensáveis, para nos trazer AQUI! Cada pessoa tem o seu caminho, mas todos conduzem ao mesmo lugar donde nunca devíamos ter saído (ou devíamos, senão nada disto fazia grande sentido – mesmo assim, pfff.. é preciso ter fé).

No fundo, no fundo, não temas, e não te condenes. Se não fosses boa pessoa, se não tivesses uma grande missão, não estavas a ler isto ;-)

A grande questão então: para que serve o desejo, e como usar o seu lado bom, sem sermos destruídos pelo seu lado mau!?

Só de leres a pergunta já começas a ver a resposta... hehehe (trust me, estás mesmo... mesmo que ainda não o saibas)

O importante é que começamos a ver o problema na sua totalidade. Aceitámos que estávamos com um problema, para começar (senão já aqui não estávamos), e isso é bom. Estamos a parar para pensar, e está a dar certo. Às vezes a bactéria que te ataca vive no mesmo meio que a bactéria que te cura (onde se alimenta, toda contente, da bactéria que te ataca).

Talvez o problema seja a sua própria solução. (hum......)

Já lá vamos, mas primeiro temos que deixar esta ideia amadurecer. Crescer na terra fértil das nossas cabeças bem adubadinhas (ena, que linda palavra), e desabrochar numa linda flor...

Tem calma, que nada de bom se consegue sem esforço.

O problema da ciência

O problema da ciência é que em certos campos ameaça tornar-se um refúgio de dogmas e de dogmáticos, não muito diferente de outras construções seculares dotadas de demasiado poder.
Antigamente as pessoas acreditavam no que lhes dizia a igreja. Hoje em dia acreditam no que lhes diz a ciência, bastando, infelizmente muitas vezes, o rótulo de científico, para dispensar qualquer questionamento posterior.
As pessoas querem à viva força acreditar em algo, e a ciência fornece inúmeras respostas. Mas esquecem-se que nas últimas dezenas de anos apenas, para não ir mais atrás, a ciência evoluiu, retrocedeu, reformulou-se, mudou de ideias, e continua à procura de respostas às questões mais fundamentais (inevitavelmente começando a procurar onde não costumava), em campos onde não evoluímos significativamente nos últimos milhares de anos.
Não podemos simplesmente confiar em tudo que nos é apresentado como científico, pela simples razão de que a ciência se engana, também.
E o que nunca podemos certamente é abdicar do nosso juízo próprio, da nossa capacidade de indagação e auto-investigação para chegar a uma resposta, que não sendo talvez científica, é mais nossa do que qualquer outra que nos seja pro(im?)posta externamente.

Será que o cérebro pensa?

Para muita gente esta parecerá uma questão imbecil. Estamos tão habituados a comer as teorias que nos apresentam como factos, sem parar um pouco para as questionar, que acredito que a grande maioria das pessoas nunca se coloque tais dúvidas. Mas será que é o cérebro que produz os pensamentos?

Se eu perguntasse se acham que é o ouvido que produz o som, não me deixariam de ridicularizar. Se eu perguntasse se era plausível que só quando a evolução das espécies conseguiu construir receptores foto-sensíveis (vulgo, olhos), é que surgiu a luz, também certamente me aconselhariam a procurar ajuda profissional urgente.

Na verdade até se pode argumentar que é efectivamente o ouvido que produz o som. A resposta à célebre questão "se uma árvore cair no meio da floresta, e não houver ninguém por perto para escutar, ela produz som?" é efectivamente "não!". O som é uma vibração que se propaga através de um meio, mas essa vibração só é interpretada como som pelo nosso ouvido, e na ausência de um ouvido para a interpretar não passa de isso mesmo – uma vibração que se propaga, sem necessariamente produzir som.

No entanto a luz fornece um caso de estudo mais interessante. Realmente já existia luz desde sempre, e a natureza ao longo de um processo misterioso e longo, conseguiu aproveitar essa luz para vários fins, um dos quais o de nos permitir formar uma imagem do mundo que nos rodeia (desenganem-se também aqueles que julgam que vêem o mundo como ele é, a visão do mundo de uma mosca, é tão válida como a nossa, embora seja radicalmente diferente, mas isso dá pano pra mangas e fica para outra altura).

Mas tal como a luz sempre existiu, e fomos nós que desenvolvemos receptores para a conseguir captar, porque não sugerir que sempre existiu pensamento, e que nós humanos neste planeta Terra somos os animais que desenvolveram receptores mais evoluídos para o podermos captar e trabalhar? Qual é a diferença?

Poderão talvez argumentar que a luz não é comparável ao pensamento. Que o pensamento é uma coisa complexa e intangível. Mas espera aí, haverá algo mais complexo e intangível que a luz? Uma coisa que não sabe bem se é uma partícula ou uma onda? Que como partícula não tem massa, e como onda não precisa de um meio para se propagar? Isso para não falar nos outros paradoxos, como a velocidade da luz ser uma constante. Ou seja, se fores de mota a 100km/h e de repente olhas pelo retrovisor e vês um fotão de luz a preparar-se para te ultrapassar, vais observá-lo a passar por ti a 300.000 km/s (supostamente a velocidade da luz, e olha que são kilómetros por segundo). Mas se fores na mesma autoestrada numa nave espacial topo de gama, a, digamos 299.999 km/s (um nadinha abaixo da velocidade da luz, só por segurança, o piso está perigoso e não vá aparecer a brigada galáctica), e o mesmo fotão se lembrar de te ultrapassar outra vez, vais vê-lo a passar por ti aos mesmos 300.000 km/s!!!! Que diabo, percamos a cabeça, e aceleremos até à velocidade da luz (não podemos ir mais depressa que a luz, supostamente deus quis reservar para ele essas velocidades doidas). Então não é que o mesmo fotão passa por ti a acenar, com um sorrisinho no canto da boca, e à velocidade de – adivinhaste – 300.000 km/s??? (independentemente da velocidade a que te deslocas, a luz passa por ti a uma velocidade constante - os tais 300.000 km/s - ao contrário do que se passa com qualquer outro corpo em movimento, que passa por ti a uma velocidade aparente que depende da tua velocidade relativa a esse mesmo corpo – se ambos circularem à mesma velocidade, por exemplo, parecerão estar parados em relação um ao outro).

E já agora, só para acabar de vos confundir, introduzamos o tempo na equação. Não que o tempo só por si não seja estranho o suficiente para vos confundir, mas deixemos esse tema para outra altura, quando eu tiver.. er.. tempo (esta não saiu muito bem). A questão é que para os fotões, esses gandas doidos, o tempo pura e simplesmente não existe. Assim imagina que olhas para o céu numa noite estrelada e contemplas essas luzinhas cintilantes lá em cima no firmamento. Para tu estares a ver uma estrela, foi necessário que um fotão de luz, gerado no interior dessa estrela, viajasse pelo espaço infinito durante milhares ou milhões de anos, a essa velocidade estúpida de "trezentos mil kilómetros por segundo" (assim por extenso inda parece mais), até chocar contra a tua retina, e fazer disparar os teus receptores foto-sensíveis. Até aqui tudo bem, não deixa de ser atencioso da parte dele fazer toda essa viagem só para te cumprimentar, mas o que é engraçado (hilariante, na verdade) é que do ponto de vista desse fotão, para quem o tempo não existe, essa viagem de milhões de anos demorou.. tempo nenhum. Nem sequer um instante. Do ponto de vista do fotão, ele saiu da estrela e entrou no teu olho no mesmo preciso momento. Ainda estava na estrela e já o estavas a ver. Estava na estrela e no teu olho ao mesmo tempo. Para ti, milhões de anos, para ele nada, nicles, zzztt...

O fotão basicamente "linka" dois pontos distintos no espaço-tempo, como que os aproxima por artes mágicas até se tornarem um só, e "nasce" aí. Do ponto de vista do fotão ele nasce nesse ponto mágico e nunca dali sai, daquele ponto único. Do nosso ponto de vista, o fotão percorreu milhões de kilómetros, ao longo de milhões de anos, para ir de um ponto ao outro. Que este milagre esteja a ocorrer a todo o momento, e literalmente, em tudo o que vemos, não nos parece surpreender, mas se isto não é estranho, não sei o que será...

Mas ok, basta de maluqueiras, voltemos ao cérebro. Se realmente o cérebro é o produtor do pensamento, então há coisas que não batem certo. Uma é que nesse caso, então, devíamos ter algum tipo de controle sobre os nossos pensamentos, não vos parece justo? Não me refiro a coisas do género "Não penses num elefante cor-de-rosa!!!!!", nem sequer ao facto de os pensamentos se encadearem uns nos outros como se tivessem vontade própria, e sermos levados por eles nessa montanha russa, com mínimo controle da nossa parte, género, pensa numa vaca, vaca-leite, leite-branco, branco-frigorífico, frigorífico-CFC's, CFC's-buraco de ozono, and so on, and so on (mas o que é que têm as vacas a ver com o buraco de ozono? exacto: nada!). Não, isso só de si mostra que uma vez puxado o fio à meada, ela praticamente doba-se (consultar um manual de tricô para os termos mais difíceis) sozinha, e a gente ali a ver onde irá parar.

O que eu estou a dizer é que a gente nunca sabe sequer qual vai ser o nosso próximo pensamento (excepto depois de o ter tido). E para o demonstrar proponho-vos um pequeno teste (não me lembro onde li isto, quando me lembrar aviso). É simples. Pára por um momento, e tenta simplesmente descobrir qual vai ser o teu próximo pensamento. Não tentes pensar em nada, limita-te a ficar à espreita até ver qual o pensamento que te vai surgir, como uma raposa à porta da toca de um coelho, à espera que ele ponha as orelhas de fora. Experimenta lá.


E então? Não demoraste um tempo a conseguir ver algum pensamento? Não te pareceu que o coelho não queria sair? Aparentemente a raposa que é o nosso cérebro, não consegue por si só comandar a saída do coelho, enquanto se mantém perseverante à espreita. Tem que se distrair por instantes, para que ele se aventure cá fora (não é burro, é um coelho). Portanto se o cérebro realmente produz os pensamentos, então aparentemente não os consegue produzir voluntária, ou noutras palavras, conscientemente. E se produz os pensamentos subconscientemente apenas, então também não se pode dizer que verdadeiramente os controle.

Claro que eu posso querer pensar num elefante, e realmente penso num elefante. Mas se me distraio um pouco já estou a pensar numa zebra. E de qualquer das formas, não consigo realmente decidir se pensei eu no elefante ou se foi ele que pensou em mim. Naquela fracção de segundo entre o querer pensar e o pensamento surgir, o que é que se passa? É um instante tão breve que facilmente nos equivocamos a julgar que quisemos, e depois pensámos. Mas qualquer investigador sério tem que reconhecer que as coisas se podem ter processado exactamente na ordem oposta, por paradoxal que isso possa parecer.

(tenho que esclarecer que começa a haver investigação credível nestes domínios, o que se louva, embora haja ainda que ultrapassar a timidez com que muitos cientistas abordam estas questões; não tenham medo de se enganar: pior é nunca questionar!)

O que eu acho é que o cérebro é apenas um receptor, maioritariamente para os nossos pensamentos, mas também, sem dúvida, para todos os outros. Quem produz os pensamentos é outra questão (lá iremos), mas que o cérebro é apenas um mediador entre esse mundo etéreo das ideias, e o mundo físico em que os nosso corpos actuam, parece-me tão plausível ou mais do que a teoria clássica (e obviamente desinformada).

Longe vão os tempos em que se pensava que as memórias estavam localizadas no cérebro, em zonas particulares. Essa teoria está desacreditada, dadas inúmeras evidencias científicas de que o cérebro funciona de forma distribuída, mas continua a ser difícil imaginar que as memórias não estão sequer localizadas no cérebro de uma forma distribuída ou outra qualquer, e que de alguma estranha forma apenas "andam por aí". No entanto é para aí que apontam as evidências.

Mais uma vez suspeito que é a nossa vontade de nos afirmarmos como seres muito evoluídos que nos impede de inverter desta forma as nossas crenças. Afinal, não é o pensamento apanágio dos seres humanos? (isto se os seres humanos racionais não são eles próprios um mito, devendo chamar-se mais apropriadamente "macacos de pouco pêlo e com capacidades cognitivas ligeiramente expandidas"...)

Enfim, isto é só o começo da questão. A um nível mais profundo, por debaixo desse turbilhão incessante de pensamentos, e aparentemente inafectada por ele, reside algo muito mais misterioso: a consciência. Essa então não posso de forma alguma crer que seja produzida pelo cérebro, as evidências para quem quiser ver, são mais do que muitas. A consciência basicamente anda por onde bem lhe apetece, no entanto tenho que evitar o risco de o apresentar assim de forma dogmática, e por isso voltarei a este tema inesgotável, com mais calma, numa próxima oportunidade.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

O que realmente importa - parte 1

O que realmente importa não sei,
mas tem sempre a ver com alguém,
que me dá um pouco de si,
e tolera este pouco de mim,
que eu tenho para oferecer

As minhas ideias

As minhas ideias não são minhas. Se são minhas não são ideias.

As minhas ideias que são minhas pouco interesse têm. Se tivessem interesse não eram minhas, mas de alguém importante.

Felicidade?

Passamos a vida em busca de alguma coisa. Desde pequenos que nos é ensinado que o objectivo da vida é alcançar a felicidade, e à medida que vamos crescendo, e vemos que essa felicidade nunca é completa começamos a achar que há algo errado connosco, que talvez seja o destino que nos está a pregar uma partida, ou talvez sejamos nós que somos incapazes de segurar as rédeas do nosso destino e conquistar essa felicidade que é nossa por direito. Infelizmente, não só o conceito de felicidade é na maior parte das vezes uma deturpação baseada no egoísmo, como a maior parte de nós está completamente errado quanto à forma de alcançar essa felicidade.

Para começar, o que é engraçado nesta busca da felicidade, é que nenhum de nós a consegue definir em termos precisos. Ninguém consegue especificar o que é que realmente representaria a felicidade para nós. À primeira vista podemos pensar que a felicidade nos viria de alcançar certos bens materiais, mas embora passemos o tempo a sonhar com o que não temos (e infelizmente nos esqueçamos de dar valor ao que efectivamente já temos), é fácil perceber que nenhum bem material nos trará a felicidade de forma duradoura, pois logo que alcançamos uma coisa que desejávamos e que nos parecia fundamental para sermos felizes, verificamos que essa mesma coisa afinal não era bem aquilo que esperávamos, que a excitação momentânea de a alcançar começa a desvanecer-se rapidamente. Parece que mal alcançamos o que pretendíamos, essa coisa deixa de parecer tão atractiva, tão gratificante, e rapidamente chegamos à conclusão que a felicidade ainda não é nossa, que o que realmente precisamos é outra coisa, melhor sem dúvida, alguma coisa que inevitavelmente ainda não possuímos, e essa sim nos fará felizes. Desta forma entramos num ciclo vicioso, de querer sempre mais, e de nos sentirmos cada vez mais insatisfeitos por nunca termos tudo o que queremos. Esse não é o caminho para a felicidade mas sim para o sofrimento.

Mais cedo ou mais tarde chegamos à conclusão que a verdadeira felicidade não pode ser alcançada com coisas materiais. Podemos estar mais confortáveis, ter coisas bonitas, viver mais comodamente, mas ninguém, nem a pessoa mais rica do mundo, pode ter tudo o que deseja, pela simples razão de que uma pessoa deseja sempre aquilo que não tem. E quanto mais tivermos mais queremos, e mais longe estaremos da felicidade, pois, não só, nada das coisas que temos nos satisfará realmente, como começaremos a ter medo de perder o que já possuímos, e assim contribuiremos ainda mais para sermos infelizes.

Tal como uma droga, essa ânsia de querer mais vai-se tornando cada vez mais violenta, vamos precisando de doses cada vez maiores para sentir a mesma satisfação momentânea, e mesmo essa desvanece-se cada vez mais cedo, sem qualquer complacência, lançando-nos de novo no abismo dos desejos insaciados. E quanto mais temos, mais se aprofunda esse abismo entre o que temos e o que desejamos.

Também pensamos muitas vezes que a felicidade pode vir de outras pessoas. Se encontrarmos o nosso par ideal, a nossa alma gémea, então seremos verdadeiramente felizes e completos. É talvez verdade que cada um de nós é incompleto, uma metade, homem ou mulher, de um mesmo todo, e dessa forma precisaremos sempre de alguém para nos completar. Não é errado procurar essa pessoa, e será talvez o mais próximo que podemos estar de ser felizes no mundo exterior, caso a encontremos. Mas se pensarmos que precisamos de alguém para ser felizes, isto é, que alguém nos vai trazer a felicidade de fora, então estamos novamente a cair no erro do materialismo e a abdicar da nossa liberdade intrínseca. As pessoas passam a ser como coisas, e já vimos que as coisas não bastam para alcançar a felicidade. Mais cedo ou mais tarde a paixão começa a diminuir, a outra pessoa deixa de ser perfeita aos nossos olhos e começa a revelar-se como uma pessoa de carne e osso, com falhas humanas como todas as outras. Nessa altura, criticamos a outra pessoa por não nos dar o que precisamos, por não nos compreender, por não nos fazer felizes. Mas será que a culpa é dela ou nossa por nos termos iludido? Será que precisamos realmente dessa pessoa como achávamos? Precisaremos de alguém para ser felizes? E já agora, que tal pararmos para pensar que a outra pessoa está provavelmente a sentir-se tão desprezada e abandonada como nós? Terei eu o direito de ser feliz, ou essa felicidade é um mito e tenho sim o dever de tornar os outros felizes? (e talvez aí então encontrar a felicidade...)

Tal como alcançar a felicidade por meios materiais é impossível, também esperar que alguém nos possa trazer essa felicidade duradoura é uma ilusão. Claro que podemos e devemos partilhar a vida com os outros, ajudarmo-nos mutuamente a evoluir, e se tivermos a sorte de encontrar a nossa alma gémea devemos dar graças por podermos partilhar com ela os momentos bons e maus da vida, as inevitáveis tristezas, mas também as muitas alegrias. Mas não podemos acreditar que sem as outras pessoas, por mais perfeitas que elas sejam, seremos incapazes de ser felizes, senão estaremos a ser injustos para com os outros, ao exigir-lhes o que não nos podem dar, e acima de tudo estaremos a ser injustos connosco próprios, ao procurarmos nos outros aquilo que só podemos encontrar em nós mesmos. Na verdade, não precisamos de ninguém, por mais que nos tenhamos apegado a essa ideia. Podemos e devemos partilhar a nossa vida com os outros, mas sem nunca esquecer que a nossa felicidade depende em primeiro lugar de nós próprios, e só nós nos podemos fazer verdadeiramente felizes.

Embora possa ser doloroso, temos que compreender que aquilo que buscamos nas outras pessoas não é mais do que um substituto pouco eficaz para o que não queremos, não sabemos ou não conseguimos dar nós próprios. Não passa de uma tentativa de ocultar as carências que temos, as faltas que sentimos interiormente. Procuramos nos outros o que não conseguimos obter de nós. Dessa forma, as falhas que apontamos à outra pessoa, evidenciam a maior parte das vezes aquilo que não gostamos em nós próprios, e muitas vezes os defeitos que criticamos nos outros são exactamente as fraquezas que não queremos reconhecer em nós.

Podemos ser felizes ao lado de alguém, mas a nossa felicidade nunca poderá provir dessa pessoa exclusivamente. Se acreditarmos que precisamos dessa pessoa para ser felizes vamo-nos tornar reféns de uma ilusão que projectámos e o resultado, mais cedo ou mais tarde, será o desapontamento. Será que alguém quer abdicar da sua individualidade em prol de outra pessoa? Será que queremos depender assim tanto de alguém que nos esquecemos de ser nós próprios?

Na verdade o sítio onde nunca se busca é o único onde a felicidade se pode ter escondido este tempo todo. É tudo acerca de nós próprios, ninguém nem nada nos pode dar essa felicidade que por estranho que pareça já está em nós. Passamos a vida à procura da felicidade no exterior, quando é apenas dentro de nós que a podemos encontrar. A vida, no fundo, é um espelho, que reflecte aquilo que nós somos. Não é a vida que nos acontece, nós é que acontecemos à vida. Quando algo nos aborrece, quando alguém nos critica, por exemplo, em vez de culparmos a outra pessoa, ou as circunstâncias por não correrem como desejamos, devíamos pensar o que é que este reflexo da vida nos pretende dizer. Qual a lição que temos que aprender? Talvez, se pensarmos bem, vejamos que a pessoa que nos está a criticar tem razão, que embora não estivéssemos conscientes, fizemos ou dissemos algo que magoou essa pessoa fazendo-a agora reagir assim. Não nos podemos esquecer que as outras pessoas também têm uma cabeça para pensar, e pior que tudo, buscam as mesmas coisas e sofrem das mesmas ilusões que nós. Talvez devêssemos deixar de culpar os outros, e procurar a culpa em nós mesmos. Se a vida é um reflexo de nós próprios, então ninguém pode causar-nos nenhum mal, excepto nós próprios. Pode parecer que a culpa é dos outros ou das circunstâncias, mas se queremos ser pessoas evoluídas temos que pensar que a culpa é nossa e compreender que só nós nos podemos pôr bem.

Muitas vezes pensamos que os outros sabem o que nós estamos a pensar. Mas infelizmente não é assim, esquecemo-nos de tentar ver a vida pelos olhos deles, e assim caímos na asneira de pensar que o mundo gira à nossa volta. Se não dizemos aos outros o que sentimos e pensamos, não podemos depois esperar que eles se comportem da forma que desejamos. Mais uma vez, a culpa foi nossa, todas as outras pessoas apenas fazem parte do espelho que a vida é.

Se pensarmos desta forma, as críticas e dificuldades da vida passam a ser oportunidades de aprender, de evoluir, de nos tornarmos melhores. E o objectivo da vida não é ser melhor do que os outros, é sermos o melhor de nós próprios. O espelho que a vida é, está lá exactamente para nos mostrar o que está errado com a nossa forma de pensar e sentir a vida. Tal como um espelho real nos mostra como está a nossa imagem, para a podermos retocar, devemos aproveitar as mensagens que o espelho da vida nos dá para nos melhorarmos interiormente.

Da mesma forma com a sorte, ou o destino. Pode parecer que certas pessoas têm sorte em tudo, e que outras só lhes acontecem desgraças. Será que Deus é injusto? Pode ser que exista alguma influência do universo sobre o que é a nossa sorte ou azar, algo adquirido, resultante do nosso karma ou das nossas acções passadas, mas em grande medida nós é que fazemos a nossa sorte. O mundo vai ser sempre um reflexo daquilo que somos interiormente, por isso se nos acharmos feios e solitários, infelizes e azarados, os outros vão-nos ver assim, e afastar-se-ão de nós. Nós próprios vamo-nos ver assim e agir dessa forma. Se nos vemos como incapazes de concretizar os nossos objectivos, então inevitavelmente a vida vai nos negar as oportunidades, ou pior ainda, nós próprios teremos medo de aproveitar as oportunidades que nos surgem a cada curva do caminho. Seremos azarados, é verdade, mas não porque a vida nos queira dificultar as coisas, e sim porque nós as dificultamos a nós próprios. Mesmo nisso pode haver algo a aprender, mas a lição só pode começar a operar a partir do momento que se reconheça o erro.

Na verdade muitos dos obstáculos que nos surgem são na verdade desafios, lições de vida que temos que vencer e compreender para podermos evoluir, para nos podermos tornar melhores. Se um obstáculo nos surge, é por que de certa forma estamos preparados para o enfrentar, e tentar evitá-lo, só vai fazer com que ele nos surja novamente mais à frente, vez após vez, até finalmente nos decidirmos a encará-lo. E de uma forma estranha, parece que as lições decorrentes da superação desses obstáculos nos mantém aprisionados no estado de evolução presente até que nos decidamos a compreende-las. Podemos fugir, mas não nos podemos esconder. Por vezes pode parecer que tudo está contra nós, mas nessa altura devemos reflectir que os maiores obstáculos são resultado da nossa própria perspectiva da vida, e se nos mudarmos por dentro, a vida também mudará por fora. É o nosso olhar sobre a vida que tem que mudar, para podermos ser mais lúcidos. A forma como vemos a vida, é a forma como a vida se torna (dito de outra forma, dá muito mais trabalho mudar todo o mundo, do que nos mudarmos nós, e o resultado é o mesmo).

Nós somos aquilo que acreditamos que somos, o que acreditamos agora é aquilo em que nos tornamos amanhã, por isso o primeiro passo é reconhecer, primeiro, e acreditar, depois, no nosso verdadeiro potencial. Aquilo que formos capazes de sonhar, também somos capazes de concretizar. O nosso sonho não é mais do que uma semente, desejosa de germinar e de florir na nossa vida. Tudo está ao nosso alcance, se realmente o quisermos alcançar. Temos que compreender aquilo que realmente somos, indivíduos capazes de enfrentar quaisquer desafios que a vida nos coloque, e capazes de lutar por aquilo que realmente desejamos. Pensamentos negativos, pessimistas ou derrotistas não são necessários, aliás são esses pensamentos que muitas vezes nos impedem de alcançar os nossos objectivos ("não consigo", "não mereço"...). Não devemos ser egoístas, não podemos esquecer que os outros têm tanto direito a alcançar os seus objectivos quanto nós, mas não podemos ficar de braços cruzados à espera que a vida nos traga milagrosamente o que desejamos. Temos que nos tornar independentes e lutar pelos nosso objectivos. Se queremos um milagre, então temos que nos tornar nós próprios esse milagre.

Pensar que podemos ser quem realmente somos à custa de bens materiais, ou à custa do amor e respeito das outras pessoas, é uma falsidade. Tudo tem o seu lugar na vida, e não há nada errado em querer ser feliz, em querer ter conforto e relações gratificantes. Não há nada errado em querer ter amor. Mas nunca nos podemos esquecer que a felicidade depende em ultima análise apenas de nós próprios. Se dependermos das circunstâncias exteriores, nunca a possuiremos, porque é no nosso íntimo que ela se esconde, e no nosso íntimo que a temos que encontrar. Nós é que temos que dar amor a nós próprios em primeiro lugar, temos que nos aceitar, que nos perdoar dos erros do passado, e compreender tudo aquilo que podemos ser no futuro.

Quando compreendermos que já somos, e temos, tudo o que precisamos, então, aí sim, seremos felizes. E o que é mais importante, se forjarmos a nossa própria felicidade, sem recorrer a nada nem a ninguém, então seremos independentes, e essa felicidade será nossa para sempre. Nada nem ninguém, nos poderá tirar essa felicidade que conquistámos, porque ela não depende de nada nem ninguém senão de nós próprios. E essa sim é a única maneira de ser verdadeiramente feliz.

A última vez que vi deus

Tinha-me deitado exausto. Estava quase quase a adormecer quando ouvi uma voz chamar-me: "Pedro!". De tal forma me pareceu real o chamamento que despertei surpreendido. Subitamente senti um calafrio percorrer-me a espinha, e uma indesmentível presença apoderar-se de mim. Senti medo. Pensei tratar-se de um espírito confundido, mas a presença era forte demais. Pensei então tratar-se do diabo, ainda para mais porque me surgiu na mente um rosto diferente de tudo o que já tinha visto. Parecia um rosto de labaredas estranhas, em constante mutação, os cabelos poderiam ser serpentes ou algo assim medusiano, e fitava-me com um sorriso enigmático, quase como se me estivesse a gozar. Podia bem ser o diabo, mas subitamente esclareceu-me: "não te aparecerei como me imaginas". Afinal era deus (um dos recursos de deus para se ocultar é deixar-nos acreditar que tem aparência divina, seja lá o que isso for... mas deus está tanto na flor, como no estrume; aliás, levando o argumento ao extremo lógico, deus por definição não pode e certamente não quer ser diferente do diabo).

Esta presença tomava conta de todo o meu corpo, deitado de costas, preenchendo-me a ponto de eu literalmente desaparecer. Era como se eu fosse apenas uma onda, um ligeiro oscilar na superfície externa do oceano, sem existência própria e individual, e abaixo de mim uma imensidão de água um abismo imensurável perante o qual eu, deitado de costas, me sentia ao mesmo tempo atemorizado e reconfortantemente protegido.

Eu enquanto indivíduo estava reduzido apenas à superfície de mim que flutuando de costas se voltava ao céu, enquanto abaixo de mim, repousava o Tudo, um poder imenso que não era meu, mas que era Eu, pois eu fundia-me nesse oceano. Na verdade aquilo que eu julgava ser, o meu ser deitado na cama, reduzia-se a uma película sobre as águas, uma casca externa, pronta a soltar-se, como uma onda que se ergue e se julga um eu individual, sem saber que nunca deixou de ser o oceano. Essa aparência externa não passava de uma ilusão, mas encontrava-se assente num poder interno esse sim tão real como algo pode ser, e que esse sim constituía a minha verdadeira essência, a força de vida que eu e todos nós somos.

Fiquei ali a saborear isto. Acho que fiquei a perceber melhor por que lhe chamam "o poder".

Depois adormeci.

evolucionismo vs creacionismo

Costumava dizer que a probabilidade de a vida surgir por espontânea combinação dos elementos do mundo mineral era a mesma de agarrarmos num punhado de tintas, as atirarmos a uma tela, e surgir pintada a Mona Lisa. Pois parece que perante tamanha complexidade, grande numero de reputados cientistas começa a achar que o surgimento da vida só se pode ter dado devido a um "desígnio inteligente".

Não quer dizer que não possa haver um plano pra isto tudo. Talvez aqueles mineraizinhos lá no fundo sintam uma inexplicável vontade de se combinar com certos mineraizinhos, e não com outros, e dessa forma originar os amino-ácidos e as moléculas essenciais para a formação da vida ou o resto tudo, que eu sei lá.

Até pode ser que seja assim, e a verdade é que o mundo microscópico é de um gajo se passar (tenho que trabalhar o vocabulário, já sei).

De qualquer forma exijo ser informado. Quero uma resposta e prontos.

É que se a evolução não explica tudo, o creacionismo decididamente não explica nada.

Acho até preocupante, pois se a moda pega, imagino quantos mais fenómenos do mundo natural passarão a ser explicados com base em intervenção superior. É pena já termos descoberto a electricidade, porque aqueles clarões assustadores no céu eram dos meus candidatos preferidos.

A ciência tornar-se-á sem dúvida acessória: basta colocar como corolário em todas as leis: "em todas as situações em que esta lei falhar ou apresentar resultados incompreensíveis, tal deve-se a intervenção divina que não deve ser questionada".

Ou melhor, basta uma única lei para explicar tudo: "As coisas são assim, porque sim. Qualquer coisa falar com Deus.".

Mai' nada.

Big-bang, ou O Grande, hã.. Bum???

Ok, talvez seja melhor começar pelo princípio.

No princípio era o verbo. Depois fez-se luz. Ou qualquer coisa assim.
Os antigos indianos usaram a metáfora sonora (Om), os gregos usaram a metáfora visual (fez-se luz). A ciência moderna embora usando outras metáforas não acrescentou nada de novo sobre o assunto (supostamente O Ganda-Bum terá soltado alguma luz, e atrevo-me a dizer, algum barulho, mas continuamos basicamente na mesma). Mas eu vou esclarecer as coisas.

Vamos imaginar que a ciência sabe tudo. Esqueçamos que questões tão básicas como “afinal o que é a gravidade?” carecem de explicação definitiva. Esqueçamos que os grandes mistérios da vida e da consciência estão tão longe de serem compreendidos por nós humanos como o estão por, sei lá, os macacos. Imaginemos que a ciência não se encontra em negação quanto ao pouco que realmente sabe, e para efeitos argumentativos consideremos que a ciência é capaz de ainda vir a descobrir as leis que regem o universo na sua totalidade. E imaginemos que deus se deixa conhecer (isto é, que estas leis realmente existem, como qualquer cientista que se preze não pode deixar de acreditar, sob risco de cair na maior crise existencial).

A partir do momento que conhecemos as leis do movimento de uma partícula (seja uma bala de canhão seja um átomo) podemos prever o seu comportamento actual ou futuro. Teoricamente, e caso conhecêssemos exactamente as condições presentes da matéria e as leis que regem o seu comportamento, poderíamos recuar no tempo e saber o que andaram todas as partículas a fazer desde o big-bang até agora.
Na verdade é mais ou menos isto que a ciência tentou fazer. Como descobriram que o universo se está a expandir, assumiram que rebobinando o filme toda a matéria esteve em tempos (ou melhor, antes do tempo) aprisionada num espaço sem dimensões, seja lá o que isso for.
Mas então vejamos. Se assim foi, será que podemos assumir que o big-bang já acabou? Essa mesma explosão que criou as inúmeras estrelas e tudo o que existe, não continuará ainda em evolução? (Um relógio parece estar parado quando olhamos para ele...). Os ciclos, as ondas de matéria e energia que foram criadas e postas em marcha nessa explosão primordial, ainda não cessaram de evoluir, de convoluir e de trivoluir por todo o lado e de todas as formas possíveis. Na verdade partícula nenhuma parou, depois do big-bang. Pode-se ter transformado, nascido e morrido inúmeras vezes, mas não deixa de ser tudo um grande ciclo de ondas atrás de ondas atrás de ondas entrelaçadas numa dança cósmica que nunca cessa, nem por uma fracção de segundo, ou enquanto o diabo esfrega um olho, para usar um intervalo temporal mais científico.
Mas essas mesmas ondas compõem-nos a nós tal como compõem tudo o que existe. Esta cadeira em que me sento, é composta de partículas que continuam a mover-se desde o início dos tempos. Que ela pareça estar imóvel é um erro de percepção, resultante do meu ponto de vista particular e da ausência de referenciais cósmicos. Todo o meu corpo é composto dessas mesmas partículas irrequietas, e é apenas a minha perspectiva reduzida que me ilude a pensar que sou um ser finito, definido e por vezes estático. Eu sou feito dessas mesmas ondas em constante mutação, tal como tu e tudo o que existe. Na verdade não podemos afirmar com certeza onde eu acabo e tu começas, pois fazemos parte das mesmas ondas que tudo permeiam.

Mas então espera aí... Se a ciência pode em princípio descobrir as leis que regem o comportamento de cada partícula, então recuando ao início do universo, a causa primeira, e aplicando essas leis a cada partícula, podemos saber tudo o que se passou com cada uma dessas partículas desde o início dos tempos até agora. Inclusive as partículas que compõem esta cadeira em que me sento, e as partículas que me compõem a mim e a ti. E segundo essas leis, todas essas partículas só podiam ter evoluído no tempo de uma forma particular: esta forma particular! Uma bala de canhão uma vez lançada, só pode vir a cair num lugar, não podemos querer descobrir leis que rejam o comportamento dos projécteis e depois querer dar liberdade de escolha à bala, para mudar de ideias a meio da viagem e procurar um sítio mais fofo para aterrar. Podemos não compreender bem o que a pôs em marcha, mas à luz da ciência a bala depois de estar lançada, só cairá num sítio: ali, e ali mesmo.
Ora como desde a grande explosão (essa, deixemos-lhe a opção de ter explodido para onde bem lhe apeteceu) nenhuma partícula de matéria ou energia teve a opção de fazer algo que não o comportamento bem definido que a lei suprema da governação do cosmos estabeleceu (que essa lei esteja por descobrir é irrelevante, chamemos-lhe deus), então começamos a chegar a uma conclusão, que embora paradoxal não deixa de ter o aval da lógica determinista: a de que num mundo mecanicista como aquele onde habita a so-called ciência, tudo está inexoravelmente predeterminado.
Ou seja, quando eu movo o meu braço, tal não acontece porque eu o desejo (embora assim me pareça, mas tal como vimos o que parece nem sempre é), mas porque as leis que regem as ondas de matéria que compõem o meu braço assim o determinam. Fascinante, não? De alguma forma então os nossos cérebros passam a ser máquinas de nos iludir à posteriori, e fingir que tiveram eles a ideia: "oops, o meu braço moveu-se, toca a mandar um pensamento a dizer que queria ter movido o meu braço há uns instantes atrás...". Temos que salvar a cara... quem se quer ver um mero fantoche nas mãos de deus?

(neste ponto gostaria que interviesse aqui um qualquer diligente materialista com demasiado tempo livre, e nos esclarecesse quanto à falha lógica de que padece – seguramente - o meu raciocínio acima, de forma a que recuperássemos o nosso lugar como expoente máximo da criação e pudéssemos seguir com as nossas vidas)

Continuando: ou bem que há leis a governar o movimento dos corpos (macro e micro-cósmicos), ou bem que os corpos decidem o que querem fazer. Talvez deus tenha deixado uma ressalva na sua famosa lei: "os corpos evoluem assim e assado, excepto os humanos, que fazem o que bem lhes apetece". Não me parece. Num universo materialista, determinista, mecanicista e inevitavelmente autista, não pode haver livre-arbítrio.
A melhor (tentativa de) saída para este impasse encontro-a na física quântica. Ao nível quântico ninguém sabe bem o que se passa, e assim parece que as partículas sub-atómicas fazem o que lhes apetece (e ninguém tem nada a ver com isso), com total desrespeito pelas leis que lhes tentamos impor. Mesmo que assim seja (o Einstein por exemplo, recusava-se a aceitar que deus jogue aos dados... eu também, mais depressa acreditaria no dominó), nada nos garante que nós humanos, enquanto partículas sobre-atómicas, gozemos dos mesmos benefícios do princípio da incerteza. A tal ressalva na lei de deus a conceder imunidade diplomática aos humanos, parece-me pouco provável.
Acho que a conclusão inevitável é que basicamente temos muito menos liberdade de escolha do que gostamos de acreditar. É natural (ainda que presunçoso) que gostemos de nos ver como seres autónomos, e na verdade os fiozinhos que nos prendem os membros nem são fáceis de discernir a olho nu. Eu nem sequer acredito neles.
Mas que eles existem, existem (se confiarmos na ciência, e até prova em contrário).

Que implicações é que isto pode ter na nossa vida do dia a dia? Em princípio nenhumas, mas pelo sim pelo não toma duas aspirinas e agasalha-te bem.

Não passamos de focos de atenção

Às vezes parece que pensamos, mas que garantia temos que os nossos pensamentos são realmente nossos?

Às vezes parece que agimos, mas que garantia temos que não nos limitámos a seguir um plano pré-estabelecido?


E se todos os pensamentos já andarem por aí e os que considero meus pensamentos forem apenas aqueles a que eu decido prestar atenção?

E se todas as acções já andarem por aí e as que considero minhas acções forem apenas aquelas a que eu decido prestar atenção?

Hum....

deus ou deusa?

Eu pessoalmente prefiro deusas, mas nas inclinações sexuais de cada um sinceramente não me quero meter.

Vejo deus como a consciência, e a deusa como a manifestação. O pai como energia, a mãe como matéria. Espírito e carne. Alma e coração. Céu e terra. Homem e mulher.

Na verdade não existe distinção, não pode existir. A matéria não é diferente da energia, e em última análise precisamos das duas.

Tal como os filhos facilmente aprendem, há coisas que é melhor pedir ao pai, e há outras que é melhor pedir à mãe. Pois bem, desenganem-se os que pensam que já não somos criancinhas.

De qualquer forma, não me espantaria que deus tivesse uma vagina, e a deusa um pénis de proporções cósmicas.

Voltarei a este tema, ou talvez não.