sábado, março 11, 2006

A Lei do desejo ( 2ª parte: O Ego)

A Lei do Desejo... (Intro)

O desejo em si é uma função necessária dos nossos veículos carnais. Sem desejo, a vontade não serve para nada (posso fazer tudo, mas não me apetece fazer nada...).

Mas o desejo não pode ser escravo do ego.

Para que fique claro, vou esclarecer aqui o que entendo como ego: o ego é o conjunto das nossas reacções adquiridas. Será a nossa identidade, a forma como reagimos às mais variadas situações.

O ego é composto de um conjunto de separações arbitrárias, um conjunto de divisões que cada um de nós estabelece subjectivamente ao longo da vida, traçando linhas imaginárias em que de um lado colocamos aquilo que gostamos, e do outro, aquilo que pretendemos evitar.

Não ultrapassámos os impulsos primários de preservação e procriação. A comida e o sexo continuam a ser as pulsões mais primordiais, juntamente, claro, com o instinto de auto-preservação (os mecanismos do medo e da aversão).

Mas não estamos muito longe do cão do Pavlov. Se uma coisa nos causa dor, fica rotulada como má, e procuramos evita-la daí em diante. Se uma coisa nos proporciona prazer, género um osso, então fica rotulada como boa e tenderemos a reforçar o comportamento que a obteve, no futuro.

Basicamente perseguimos o prazer, e fugimos da dor (ou melhor, do sofrimento, porque a dor não é necessariamente traduzida em sofrimento, mais essa é uma das divisões subjectivas do ego).

E o nosso ego vai armazenando estes rotulozinhos todos, essas atitudes, essas reacções (é uma função necessária, sem ela não teríamos sobrevivido, e obviamente que os animais a terão também em diferentes proporções: uma mosca ou um elefante, precisam ambos de descobrir comportamentos bem sucedidos, bem como acções a evitar, se querem sobreviver num ambiente hostil e competitivo).

Mas isto é tudo imaginário: todas as rotulações, de bom ou mau, são no fundo irreais. Todas estas linhas imaginárias que traçamos são pessoais e subjectivas. O que para um pode ser mau, para outro será óptimo, e vice-versa, e se todos vemos a realidade de forma subjectivamente diferente, e não podemos estar todos certos - ou podemos? - então resta-nos concluir que a realidade não é como nenhum de nós a vê.

O que é pior, é que nos tornamos muitas vezes escravos das rotulações que fizemos, dos nossos julgamentos apressados ou diminuidores. E quem perde com isso somos nós. Ao rotular metade da realidade como má, estamos a rejeitar metade do mundo, e como não podia deixar de ser, se dele fazemos parte, metade de nós próprios.

Não quer isto dizer que devamos aceitar o mal, mas sim que precisamos compreender que tudo faz parte da vida, e a nossa tentativa de fechar os olhos a metade, só nos priva da tranquilidade da reconciliação dos opostos, e da integração completa.

Desperdiçamos imenso tempo e energia no esforço desmesurado de fugir de tanta coisa, e de perseguir tanta mais. Nessa correria toda como poderemos nós parar para viver? Como poderemos saborear o presente, na única oportunidade que alguma vez teremos de o fazer – agora? E que poderíamos fazer com esta energia imensa, se deixássemos de a desperdiçar assim?

Nenhum desejo se pode comparar ao único, verdadeiro desejo, que albergas dentro de ti...

Encontra esse desejo, e terás metade do sucesso garantido.

Alinha esse desejo com o desejo universal, e terás tudo o que quiseres.