quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Mais lenha prá fogueira do livre-arbítrio

Que é que preferem, pré-determinismo, ou interacção mente-matéria?
Já vimos que é impossível conciliar a existência de leis deterministas (que são a base da ciência) e o livre-arbítrio humano (ou seja, se há leis, não há liberdade de escolha, e tudo está já pré-determinado).
Depois das coisas começarem a andar – e não fomos nós que as pusemos em marcha - todos os seus movimentos futuros não resultam de qualquer decisão, mas sim da acção e reacção de forças naturais que regem as interacções da matéria. Ou aceitamos que as balas de canhão têm vontade própria ou elas aterram onde a lei bem lhes manda (imagina agora que todas as tuas partículas são no fundo balas de canhão, disparadas por qualquer estrela ou pela grande explosão no início dos tempos).
Claro que por mais que me tenha divertido construir essa argumentação, ela tem que conter alguma falha, porque eu também gostava de acreditar que posso decidir algo por mim, e não me encontro simplesmente a ver o filme da minha vida a desenrolar-se (e eu a pensar que era o actor principal...).
Uma alternativa que referi foi a possibilidade de deus jogar aos dados, e haver assim alguma areia na engrenagem das leis cósmicas que lhes permitem trabalhar assim-assim.
Mas não sei o que será pior, se pensar que está tudo escrito de antemão, ou que tudo se processa ao acaso! De qualquer das formas continua a não haver nenhuma intervenção da nossa parte!
Essas leis probabilísticas continuam a não permitir chegar a conclusões precisas. Se existe um grau de improbabilidade, então quem é que decide qual das probabilidades é finalmente concretizada em realidade? Quem é que comanda o colapso da função de onda, numa onda específica (a onda real)?
Parece-me a velha discussão do fatalismo versus livre-arbítrio continua incólume, agora numa nova roupagem. Chegámos mais perto da solução, apenas para ver que não avançámos nada em termos do dilema essencial que se nos coloca.
A alternativa, para mim, está num outro sapo difícil de engolir.
Essa incerteza subjacente ao universo quântico, é de alguma forma afectada pela nossa mente, e por quaisquer meios ainda totalmente obscuros, é não simplesmente um factor aleatório, mas a nossa própria energia volitiva (nossa, no sentido de tudo aquilo que tem vontade, por esse universo fora), que permite que o universo se vá moldando a si próprio, fora de padrões rigidamente estabelecidos à priori.
Das duas, três: ou tudo é determinista, ou tudo é absolutamente caótico, ou no meio desses dois extremos a nossa mente (ou alguma mente, vá, que a nossa não será talvez das melhores) tem algo a dizer.
Como o universo mecanicista da primeira hipótese é já comummente desacreditado, e suspeito que muitos cientistas se sintam tão pouco à vontade com um universo aleatório como com um universo fatalista, então resta à ciência digerir a plausibilidade de uma interacção mente-matéria.
Boa sorte!