A última vez que vi deus
Tinha-me deitado exausto. Estava quase quase a adormecer quando ouvi uma voz chamar-me: "Pedro!". De tal forma me pareceu real o chamamento que despertei surpreendido. Subitamente senti um calafrio percorrer-me a espinha, e uma indesmentível presença apoderar-se de mim. Senti medo. Pensei tratar-se de um espírito confundido, mas a presença era forte demais. Pensei então tratar-se do diabo, ainda para mais porque me surgiu na mente um rosto diferente de tudo o que já tinha visto. Parecia um rosto de labaredas estranhas, em constante mutação, os cabelos poderiam ser serpentes ou algo assim medusiano, e fitava-me com um sorriso enigmático, quase como se me estivesse a gozar. Podia bem ser o diabo, mas subitamente esclareceu-me: "não te aparecerei como me imaginas". Afinal era deus (um dos recursos de deus para se ocultar é deixar-nos acreditar que tem aparência divina, seja lá o que isso for... mas deus está tanto na flor, como no estrume; aliás, levando o argumento ao extremo lógico, deus por definição não pode e certamente não quer ser diferente do diabo).
Esta presença tomava conta de todo o meu corpo, deitado de costas, preenchendo-me a ponto de eu literalmente desaparecer. Era como se eu fosse apenas uma onda, um ligeiro oscilar na superfície externa do oceano, sem existência própria e individual, e abaixo de mim uma imensidão de água um abismo imensurável perante o qual eu, deitado de costas, me sentia ao mesmo tempo atemorizado e reconfortantemente protegido.
Eu enquanto indivíduo estava reduzido apenas à superfície de mim que flutuando de costas se voltava ao céu, enquanto abaixo de mim, repousava o Tudo, um poder imenso que não era meu, mas que era Eu, pois eu fundia-me nesse oceano. Na verdade aquilo que eu julgava ser, o meu ser deitado na cama, reduzia-se a uma película sobre as águas, uma casca externa, pronta a soltar-se, como uma onda que se ergue e se julga um eu individual, sem saber que nunca deixou de ser o oceano. Essa aparência externa não passava de uma ilusão, mas encontrava-se assente num poder interno esse sim tão real como algo pode ser, e que esse sim constituía a minha verdadeira essência, a força de vida que eu e todos nós somos.
Fiquei ali a saborear isto. Acho que fiquei a perceber melhor por que lhe chamam "o poder".
Depois adormeci.
Esta presença tomava conta de todo o meu corpo, deitado de costas, preenchendo-me a ponto de eu literalmente desaparecer. Era como se eu fosse apenas uma onda, um ligeiro oscilar na superfície externa do oceano, sem existência própria e individual, e abaixo de mim uma imensidão de água um abismo imensurável perante o qual eu, deitado de costas, me sentia ao mesmo tempo atemorizado e reconfortantemente protegido.
Eu enquanto indivíduo estava reduzido apenas à superfície de mim que flutuando de costas se voltava ao céu, enquanto abaixo de mim, repousava o Tudo, um poder imenso que não era meu, mas que era Eu, pois eu fundia-me nesse oceano. Na verdade aquilo que eu julgava ser, o meu ser deitado na cama, reduzia-se a uma película sobre as águas, uma casca externa, pronta a soltar-se, como uma onda que se ergue e se julga um eu individual, sem saber que nunca deixou de ser o oceano. Essa aparência externa não passava de uma ilusão, mas encontrava-se assente num poder interno esse sim tão real como algo pode ser, e que esse sim constituía a minha verdadeira essência, a força de vida que eu e todos nós somos.
Fiquei ali a saborear isto. Acho que fiquei a perceber melhor por que lhe chamam "o poder".
Depois adormeci.
1 Comments:
Na verdade não adormeci logo. Já era tarde mas aproveitei que estava ali, no meio daquele silêncio com a deusa a falar dentro da minha cabeça e perguntei "qual era a minha missão". No preciso instante em que acabei de formular a questão passa um carro lá fora com alta música a "bombar"... até me passei.
Enviar um comentário
<< Home