quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Será que o cérebro pensa?

Para muita gente esta parecerá uma questão imbecil. Estamos tão habituados a comer as teorias que nos apresentam como factos, sem parar um pouco para as questionar, que acredito que a grande maioria das pessoas nunca se coloque tais dúvidas. Mas será que é o cérebro que produz os pensamentos?

Se eu perguntasse se acham que é o ouvido que produz o som, não me deixariam de ridicularizar. Se eu perguntasse se era plausível que só quando a evolução das espécies conseguiu construir receptores foto-sensíveis (vulgo, olhos), é que surgiu a luz, também certamente me aconselhariam a procurar ajuda profissional urgente.

Na verdade até se pode argumentar que é efectivamente o ouvido que produz o som. A resposta à célebre questão "se uma árvore cair no meio da floresta, e não houver ninguém por perto para escutar, ela produz som?" é efectivamente "não!". O som é uma vibração que se propaga através de um meio, mas essa vibração só é interpretada como som pelo nosso ouvido, e na ausência de um ouvido para a interpretar não passa de isso mesmo – uma vibração que se propaga, sem necessariamente produzir som.

No entanto a luz fornece um caso de estudo mais interessante. Realmente já existia luz desde sempre, e a natureza ao longo de um processo misterioso e longo, conseguiu aproveitar essa luz para vários fins, um dos quais o de nos permitir formar uma imagem do mundo que nos rodeia (desenganem-se também aqueles que julgam que vêem o mundo como ele é, a visão do mundo de uma mosca, é tão válida como a nossa, embora seja radicalmente diferente, mas isso dá pano pra mangas e fica para outra altura).

Mas tal como a luz sempre existiu, e fomos nós que desenvolvemos receptores para a conseguir captar, porque não sugerir que sempre existiu pensamento, e que nós humanos neste planeta Terra somos os animais que desenvolveram receptores mais evoluídos para o podermos captar e trabalhar? Qual é a diferença?

Poderão talvez argumentar que a luz não é comparável ao pensamento. Que o pensamento é uma coisa complexa e intangível. Mas espera aí, haverá algo mais complexo e intangível que a luz? Uma coisa que não sabe bem se é uma partícula ou uma onda? Que como partícula não tem massa, e como onda não precisa de um meio para se propagar? Isso para não falar nos outros paradoxos, como a velocidade da luz ser uma constante. Ou seja, se fores de mota a 100km/h e de repente olhas pelo retrovisor e vês um fotão de luz a preparar-se para te ultrapassar, vais observá-lo a passar por ti a 300.000 km/s (supostamente a velocidade da luz, e olha que são kilómetros por segundo). Mas se fores na mesma autoestrada numa nave espacial topo de gama, a, digamos 299.999 km/s (um nadinha abaixo da velocidade da luz, só por segurança, o piso está perigoso e não vá aparecer a brigada galáctica), e o mesmo fotão se lembrar de te ultrapassar outra vez, vais vê-lo a passar por ti aos mesmos 300.000 km/s!!!! Que diabo, percamos a cabeça, e aceleremos até à velocidade da luz (não podemos ir mais depressa que a luz, supostamente deus quis reservar para ele essas velocidades doidas). Então não é que o mesmo fotão passa por ti a acenar, com um sorrisinho no canto da boca, e à velocidade de – adivinhaste – 300.000 km/s??? (independentemente da velocidade a que te deslocas, a luz passa por ti a uma velocidade constante - os tais 300.000 km/s - ao contrário do que se passa com qualquer outro corpo em movimento, que passa por ti a uma velocidade aparente que depende da tua velocidade relativa a esse mesmo corpo – se ambos circularem à mesma velocidade, por exemplo, parecerão estar parados em relação um ao outro).

E já agora, só para acabar de vos confundir, introduzamos o tempo na equação. Não que o tempo só por si não seja estranho o suficiente para vos confundir, mas deixemos esse tema para outra altura, quando eu tiver.. er.. tempo (esta não saiu muito bem). A questão é que para os fotões, esses gandas doidos, o tempo pura e simplesmente não existe. Assim imagina que olhas para o céu numa noite estrelada e contemplas essas luzinhas cintilantes lá em cima no firmamento. Para tu estares a ver uma estrela, foi necessário que um fotão de luz, gerado no interior dessa estrela, viajasse pelo espaço infinito durante milhares ou milhões de anos, a essa velocidade estúpida de "trezentos mil kilómetros por segundo" (assim por extenso inda parece mais), até chocar contra a tua retina, e fazer disparar os teus receptores foto-sensíveis. Até aqui tudo bem, não deixa de ser atencioso da parte dele fazer toda essa viagem só para te cumprimentar, mas o que é engraçado (hilariante, na verdade) é que do ponto de vista desse fotão, para quem o tempo não existe, essa viagem de milhões de anos demorou.. tempo nenhum. Nem sequer um instante. Do ponto de vista do fotão, ele saiu da estrela e entrou no teu olho no mesmo preciso momento. Ainda estava na estrela e já o estavas a ver. Estava na estrela e no teu olho ao mesmo tempo. Para ti, milhões de anos, para ele nada, nicles, zzztt...

O fotão basicamente "linka" dois pontos distintos no espaço-tempo, como que os aproxima por artes mágicas até se tornarem um só, e "nasce" aí. Do ponto de vista do fotão ele nasce nesse ponto mágico e nunca dali sai, daquele ponto único. Do nosso ponto de vista, o fotão percorreu milhões de kilómetros, ao longo de milhões de anos, para ir de um ponto ao outro. Que este milagre esteja a ocorrer a todo o momento, e literalmente, em tudo o que vemos, não nos parece surpreender, mas se isto não é estranho, não sei o que será...

Mas ok, basta de maluqueiras, voltemos ao cérebro. Se realmente o cérebro é o produtor do pensamento, então há coisas que não batem certo. Uma é que nesse caso, então, devíamos ter algum tipo de controle sobre os nossos pensamentos, não vos parece justo? Não me refiro a coisas do género "Não penses num elefante cor-de-rosa!!!!!", nem sequer ao facto de os pensamentos se encadearem uns nos outros como se tivessem vontade própria, e sermos levados por eles nessa montanha russa, com mínimo controle da nossa parte, género, pensa numa vaca, vaca-leite, leite-branco, branco-frigorífico, frigorífico-CFC's, CFC's-buraco de ozono, and so on, and so on (mas o que é que têm as vacas a ver com o buraco de ozono? exacto: nada!). Não, isso só de si mostra que uma vez puxado o fio à meada, ela praticamente doba-se (consultar um manual de tricô para os termos mais difíceis) sozinha, e a gente ali a ver onde irá parar.

O que eu estou a dizer é que a gente nunca sabe sequer qual vai ser o nosso próximo pensamento (excepto depois de o ter tido). E para o demonstrar proponho-vos um pequeno teste (não me lembro onde li isto, quando me lembrar aviso). É simples. Pára por um momento, e tenta simplesmente descobrir qual vai ser o teu próximo pensamento. Não tentes pensar em nada, limita-te a ficar à espreita até ver qual o pensamento que te vai surgir, como uma raposa à porta da toca de um coelho, à espera que ele ponha as orelhas de fora. Experimenta lá.


E então? Não demoraste um tempo a conseguir ver algum pensamento? Não te pareceu que o coelho não queria sair? Aparentemente a raposa que é o nosso cérebro, não consegue por si só comandar a saída do coelho, enquanto se mantém perseverante à espreita. Tem que se distrair por instantes, para que ele se aventure cá fora (não é burro, é um coelho). Portanto se o cérebro realmente produz os pensamentos, então aparentemente não os consegue produzir voluntária, ou noutras palavras, conscientemente. E se produz os pensamentos subconscientemente apenas, então também não se pode dizer que verdadeiramente os controle.

Claro que eu posso querer pensar num elefante, e realmente penso num elefante. Mas se me distraio um pouco já estou a pensar numa zebra. E de qualquer das formas, não consigo realmente decidir se pensei eu no elefante ou se foi ele que pensou em mim. Naquela fracção de segundo entre o querer pensar e o pensamento surgir, o que é que se passa? É um instante tão breve que facilmente nos equivocamos a julgar que quisemos, e depois pensámos. Mas qualquer investigador sério tem que reconhecer que as coisas se podem ter processado exactamente na ordem oposta, por paradoxal que isso possa parecer.

(tenho que esclarecer que começa a haver investigação credível nestes domínios, o que se louva, embora haja ainda que ultrapassar a timidez com que muitos cientistas abordam estas questões; não tenham medo de se enganar: pior é nunca questionar!)

O que eu acho é que o cérebro é apenas um receptor, maioritariamente para os nossos pensamentos, mas também, sem dúvida, para todos os outros. Quem produz os pensamentos é outra questão (lá iremos), mas que o cérebro é apenas um mediador entre esse mundo etéreo das ideias, e o mundo físico em que os nosso corpos actuam, parece-me tão plausível ou mais do que a teoria clássica (e obviamente desinformada).

Longe vão os tempos em que se pensava que as memórias estavam localizadas no cérebro, em zonas particulares. Essa teoria está desacreditada, dadas inúmeras evidencias científicas de que o cérebro funciona de forma distribuída, mas continua a ser difícil imaginar que as memórias não estão sequer localizadas no cérebro de uma forma distribuída ou outra qualquer, e que de alguma estranha forma apenas "andam por aí". No entanto é para aí que apontam as evidências.

Mais uma vez suspeito que é a nossa vontade de nos afirmarmos como seres muito evoluídos que nos impede de inverter desta forma as nossas crenças. Afinal, não é o pensamento apanágio dos seres humanos? (isto se os seres humanos racionais não são eles próprios um mito, devendo chamar-se mais apropriadamente "macacos de pouco pêlo e com capacidades cognitivas ligeiramente expandidas"...)

Enfim, isto é só o começo da questão. A um nível mais profundo, por debaixo desse turbilhão incessante de pensamentos, e aparentemente inafectada por ele, reside algo muito mais misterioso: a consciência. Essa então não posso de forma alguma crer que seja produzida pelo cérebro, as evidências para quem quiser ver, são mais do que muitas. A consciência basicamente anda por onde bem lhe apetece, no entanto tenho que evitar o risco de o apresentar assim de forma dogmática, e por isso voltarei a este tema inesgotável, com mais calma, numa próxima oportunidade.

4 Comments:

Blogger Geraldo Sarti said...

AS SUAS SÃO AS MINHAS DÚVIDAS.FAVOR VISITAR O SITE www.parapsicologia-rj.com.br OU SIMPLESMENTE parapsicologia rj ,NO GOOGLE.PODERÁ SER INTERESSANTE PARA NÓS.

06:40  
Blogger Ravnos said...

Gostei de sua explanação. Muito interessante

17:15  
Anonymous Anónimo said...

Você tem razão.
A mente só interpreta o cérebro tanto é assim que podemos por hipnose da mente estar comendo uma maça e sentir que está comendo um cebola ou vice-versa.

19:13  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do turbilhão...quando tiver um tempinho e alguma inspiração tentarei contribuir com as minhas desconfianças.

19:31  

Enviar um comentário

<< Home